Friday, March 31, 2006

Lágrimas de Crocodilo

José Dirceu
Ex-chefe da Casa Civil


Parece mentira, mas é verdade. Voltamos ao clima de fim do mundo, tão caro à CPI dos Bingos. Agora, quase toda a mídia assume, falsamente escandalizada, um ar de indignação e estupefação contra o governo e dá curso aos piores ressentimentos da oposição que, alegremente, tenta levar o país a um beco sem saída.

Seu propósito golpista, via Paulo Okamotto, foi facilitado - e muito - com a crise da quebra do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Um fato de extrema gravidade, inadmissível, que está sendo, rigorosamente, apurado pela Polícia Federal e que levou às demissões do ministro Antonio Palocci e do ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso.

A paranóia chegou ao limite, com a histeria desencadeada pelos catões de plantão, contra a manifestação da deputada do PT, Ângela Guadagnin, de aprovação à absolvição de João Magno, deputado de seu partido.

Os que condenaram o comportamento da deputada são os mesmos que silenciaram, junto com parte expressiva da mídia, quando o líder do PSDB, deputado baiano Jutahy Magalhães Filho, disse, para todo o Brasil, ''que caixa dois é crime eleitoral sujeito a multa, e não a cassação de mandato'', ao justificar o voto do PSDB-PFL pela absolvição do deputado Roberto Brant.

Tudo fica mais grave, quando sabemos que a Comissão de Ética do Senado absolveu o senador Eduardo Azeredo, réu confesso, apoiando-se na falácia de que o ex-governador e ex-presidente do PSDB não era parlamentar na época do ocorrido.

Sabem o Senado, e toda a mídia, o STF decidiu que o decoro parlamentar independe de estar, ou não, o cidadão no exercício do mandato, razão pela qual um parlamentar-ministro pode ser processado por quebra do decoro, mesmo licenciado.

Mais grave ainda, porque revela os verdadeiros objetivos da oposição e de seus pistoleiros de aluguel, é a hipocrisia com relação ao ato, condenável, de quebra do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa.

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Henrique Fontana, enumerou todos os casos de violação flagrante, por parte da oposição, dos sigilos telefônico, bancário e fiscal de várias pessoas. Todos eles realizados com o apoio de certa mídia, que, em muitos casos, chegou a pressionar pela violação, e usou e abusou da publicação dos dados sigilosos.

Vou citar cada um desses casos de quebra de sigilo, para provar o farisaísmo e a total irresponsabilidade dessa mesma mídia: o de Henrique Meireles, da Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil - Concrab; o dos deputados federais petistas Devanir Ribeiro, Zezéu Ribeiro, Wasny de Roure e Vicentinho; o de Maurício Marinho, ex-funcionário dos Correios; de dados sigilosos do TCU sobre a Petrobrás e, por fim, do meu, quando era deputado.

Também irresponsável foi o vazamento dos dados do publicitário Duda Mendonça, transferidos para a CPMI pelas autoridades do governo norte-americano. O próprio Paulo Okamotto teve seus sigilos bancário, fiscal e telefônico devassados pelo jornal O Estado de S. Paulo.

A Folha de S. Paulo faz, agora, um editorial de primeira página, onde expressa sua desfaçatez, ao acusar o governo Lula de conviver mal com a imprensa. Chega ao cúmulo de lhe atribuir a Lei da Mordaça, obra do ex-presidente FHC e de seu partido, o PSDB, engavetada pelo presidente Lula. No afã de provar abuso de poder por parte do governo, revive o caso do correspondente do The New York Times e a proposta do Conselho Nacional de Jornalismo.

Tudo para mostrar que o governo Lula abusa do poder, quando a realidade é outra; quem o faz são as oposições, tanto na violação dos sigilos, como na ação da CPMI dos Bingos, ilegal e inconstitucional, segundo manifestação do próprio STF.

A verdade é que nenhum governo foi tão investigado e tão devassado. Toda e qualquer denúncia divulgada pela imprensa é, imediatamente, levada à CPMI. Ministério Público, Polícia Federal, TCU, CGU acompanham e investigam tudo.

O desespero da oposição e de seus apoiadores vem do fato de que nada ficou provado contra o presidente e, também, do fato de que não há provas de o governo ter praticado qualquer irregularidade ou ilícito ou de se ter omitido.
Na verdade, estamos assistindo a mais um episódio explícito da campanha eleitoral, com ameaças e ares de chantagem barata contra o governo, sob o pretexto da defesa das liberdades e dos direitos dos cidadãos.

QUESTÃO DE ORDEM: Os tucanos contra Lula

Quem imagina, como os tucanos da OAB, obter o impeachment do presidente, que se prepare para confrontar-se com a reação dos trabalhadores. Lula pode ter todos os defeitos que lhe atribuem. Se os tiver, não estará sendo diferente de muitos de seus antecessores. A diferença é que ele não é do grupo dos que sempre mandaram no Brasil.

Mauro Santayana * Carta Maior



BRASÍLIA - Joaquim Cardozo, o grande calculista de Niemeyer e excelente poeta, começa um de seus poemas com a fantasia de que se haviam reunido, em congresso, todos os ventos do mundo. Era o engenheiro, ser construído para lutar contra os elementos naturais – sobretudo o vento – que se assustava com a previsível tragédia de uma convenção que juntasse o euro e o siroco, o minuano, os ventos atlânticos e os tufões caribenhos.Começam a reunir-se, nesta sexta-feira, dia de desincompatibilização, todos os irrequietos e imprevisíveis ciclones políticos. O ministro Palocci, que começou a escorregar ainda em Ribeirão Preto ao escolher mafiosos de subúrbio como auxiliares diretos, caiu na fossa da desgraça por motivos de rasteira futilidade. Deu à oposição mais pólvora para o ataque ao governo. Enfim, está caindo pelos pecados menores, e não pela sua obediência automática aos recados do Império, repassados com fidelidade pelo Sr. Henrique Meirelles.

O caseiro Francenildo descobrirá, dentro de pouco tempo, que está sendo usado pelos tucanos que – como é de praxe nesses casos – irão deixá-lo na calçada, quando ele lhes deixar de ser útil. Os homens mais experientes não sabem como se sentir mais penalizados diante do caso do rapaz piauiense, cujo nascimento acidentado, em uma sociedade hipócrita como a nossa, já era um fardo a carregar: se com a sua situação social, ou com o festival de cinismo com que o exaltam nestes dias.

Nestes dias, é claro, o rapaz se sente como uma celebridade nacional, como celebridades foram, um dia, o motorista e a secretária, no caso Collor. Mas é constrangedor ver homens que normalmente não lhe dirigiriam a palavra, senão de cima para baixo, saudá-lo como o grande herói nacional, e usá-lo, como o usaram os tucanos da OAB, como garoto propaganda de um ridículo movimento de impeachment contra o presidente da República.

Se esses senhores meditassem o que ocorreu há 42 anos, exatamente naquela véspera de 1º de abril, seriam menos afoitos. É possível que estejam jogando com os grã-finos e alienados que se reúnem hoje no Instituto Millenium e no movimento “Queremos mais Brasil”, que pretendem reeditar o que houve em 1964. Mas se esquecem de que a história pode repetir-se como farsa (de acordo com Marx) ou rodando para trás.

Quem imagina obter o impeachment do presidente, assim sem mais nem menos, que se prepare para confrontar-se a uma reação poderosa dos trabalhadores. Lula pode ter todos os defeitos que lhe atribuem, e alguns mais. Se os tiver, não estará sendo muito diferente de muitos de seus antecessores. A diferença é que ele não é do grupo dos que sempre mandaram no Brasil.

E não contem com os quartéis. É mais fácil, na situação nacional de hoje, encontrar militares com a consciência de que o inimigo deixou de estar no Sul, para vir do Norte, do que aqueles que, enganados pelas circunstâncias, aplaudiram a teoria das fronteiras ideológicas. Os que estão enfrentando as dificuldades da selva amazônica, e preocupados na vastidão das fronteiras ocidentais do Brasil, sabem muito bem que as fronteiras são físicas, concretas, que devem ser rigorosamente fechadas contra os aventureiros.

UMA SUCESSÃO TUMULTUADA
Nessa fase de formação das candidaturas, tem havido de tudo. Os tucanos, no afã de ampliar e consolidar suas alianças, prometem o paraíso a seus aliados possíveis. Mas, em política, o pecado maior não é a falsa promessa, mas a boa-fé em tê-la como válida. O Sr. Itamar Franco não toca no assunto, mas o Sr. Barbosa Lima Sobrinho que, no limiar dos cem anos, permanecia arguto observador, afirmava a seus amigos saber que Fernando Henrique, para garantir o apoio do então presidente, na fase de escolha de candidatos presidenciais, prometeu-lhe fazê-lo candidato à sucessão em 1998. Outro testemunho, neste sentido, foi o do jornalista João Emílio Falcão, em confidência a este colunista. Quando a glória deu ao grão tucano o manto de pavão, Fernando Henrique achou que ninguém podia a ele suceder, senão ele mesmo.

Prevendo as dificuldades em vencer Lula, a oposição usará todas as armas possíveis. No interior, os partidários do presidente devem acautelar-se contra os atos habituais de provocação. Nas grandes cidades corremos o risco de confronto entre manifestantes do PSDB de um lado e de defensores do atual governo, do outro. Nessa hora, é bom que, de um lado e de outro, haja pessoas de bom-senso.

Estamos construindo, com todas as dificuldades, o estado democrático, e qualquer retrocesso, para um lado ou outro do espectro político, será danoso. O país – e é sempre bom dizer – anseia por um governo de centro. Salvador de Madariaga, grande pensador espanhol, dizia que a República malograra em seu país porque malograra o centro político. Quer queiram, ou não, o governo Lula tem sido um governo de centro, enquanto o de Fernando Henrique foi – em termos de ação e resultados – um governo neo-conservador, distanciado do centro pelo lado direito.

OS ÊXITOS ECONÔMICOS
Embora a política econômica tenha continuado monetarista, os seus resultados foram muito mais efetivos do que no passado. Lula conseguiu reduzir a velocidade do endividamento interno, saldou grande parte dos compromissos externos, quitou as dívidas tucanas com o FMI e com o Clube de Paris e conseguiu, nestes três anos anteriores, saldos comerciais de quase cem bilhões de dólares. Os sacrifícios do povo foram quase os mesmos, mas conseguimos mais autonomia diante dos credores internacionais. Se o resultado do PIB continua pífio, podemos lembrar que não foi melhor na média dos oito anos de Fernando Henrique, que só puderam ser comparados aos anos loucos do encilhamento, e da conseqüente “austeridade” recessiva de Joaquim Murtinho, no início de nossa vida republicana.

Será difícil aos tucanos convencer os empresários de bom senso que é melhor voltar aos tempos privatizantes de Fernando Henrique. Já se anuncia que o Sr. Luis Carlos Mendonça de Barros prepara um plano de governo que privatizará totalmente a Petrobras (a fim de evitar a sua associação com a Pedevesa, da Venezuela), completará a privatização das empresas de energia elétrica (o que se impediu graças à reação viril de Itamar em Minas) e retornará aos “bons tempos” em que ele e os meninos de ouro do Banco Central sabiam administrar com êxito os seus rendosos negócios privados, sem deixar a gestão da economia pública.



Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

O MUNDO PELO AVESSO

Nem veja. Nem leia

Se você quiser saber tudo sobre o governo FHC, não leia o livro de auto-ajuda “A arte da política”, assinado pelo ex-presidente. Não leia, porque ali nada se explica sobre as privatizações, conluio com a grande mídia, a explosão da dívida pública e aprovação da emenda da reeleição.

Emir Sader * Agência Carta Maior


Se você quiser saber como FHC foi fabricado como candidato para o Plano Real e não o Plano para o candidato;

Se você quiser saber como a inflação foi transformada na multiplicação da dívida pública em 11 vezes, pelo candidato que dizia que “o Estado gasta muito, o Estado gasta mal”, mas entregou o Estado falido a seu sucessor;

Se você quiser saber como o presidente dos EUA mandou seu assessor para apoiar a candidatura de FHC e ganhou, de quebra, o Sivam, para uma empresa financiadora de sua campanha;

Se você quiser saber como parlamentares foram comprados para que a Constituição fosse reformada e a emenda da reeleição, reformada;

Se você quiser saber como o conluio entre a grade mídia privada e o governo de FHC impediu que houvesse CPI da compra de votos;

Se você quiser saber como o país foi quebrado três vezes durante o governo de FHC, ao seguir rigorosamente as normas do FMI;

Se você quiser saber quanto e como se multiplicaram fortunas com a privatização das empresas públicas – o maior negócio de corrupção da história do Brasil;

Se você quiser saber quanto e como se multiplicaram fortunas com a brutal desvalorização da moeda em janeiro de 1999;

Se você quiser saber como e por que fracassou o governo de FHC, derrotado estrepitosamente nas eleições para sua sucessão;

Se você quiser saber estas e outras verdades fundamentais para entender o Brasil contemporâneo e por que o ex-presidente FHC é o mais rejeitado de todos os nomes aventados como candidatos à presidência da República;

Se você quiser saber por que seus correligionários disseram a FHC que calasse a boca, porque suas intervenções desastrosas ajudavam a recuperação eleitoral de Lula;

Se você quiser saber por que FHC não conseguiu nenhum cargo internacional – como era seu sonho – e tem que se contentar com o luxuoso escritório no Vale do Anhangabaú, montado por grandes empresários paulistas, em agradecimento pelo que lucraram durante seu governo;

Se você quiser saber por que FHC se tornou tão rancoroso diante do sucesso de Lula e de sua política externa;

Se você quiser saber dos vínculos sorrateiros da “Veja” com o ex-presidente, que deram – na única resenha da imprensa – capa do seu livro, apresentada por um escriba de plantão;

Se você quiser saber tudo isso e muito mais sobre o governo FHC, não leia o livro de auto-ajuda (para ele levantar sua decaída auto-estima), recém publicado pelo ex-presidente, decadente e marginalizado.

Não leia, porque nada disso está ali, senão autobajulações, autojustificativas, perfeitamente adequadas a que se esqueça antes mesmo de ler. Nem veja, nem leia.


Emir Sader é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de “A vingança da História".

Assembléia investiga doações de vestidos a Lu Alckmin

Primeira-dama de São Paulo diz que vestidos que ganhou foram entregues a instituição de caridade; deputado vê improbidade e Assembléia investiga doações a Lu Alckmin

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

A Assembléia Legislativa de São Paulo vai investigar as doações de roupas que foram feitas pelo estilista Rogério Figueiredo para a primeira-dama do Estado, Lu Alckmin. O estilista revelou à Folha que já doou 400 peças de alta-costura para a primeira-dama.

Em carta enviada anteontem ao jornal e publicada ontem, a assessora de Lu Alckmin, Cristina Macedo, afirmou que "a senhora Lu Alckmin não recebeu 400 peças" de Rogério Figueiredo e que "as poucas peças" entregues foram doadas para "a entidade social Fraternidade Irmã Clara".

Ao jornal "O Estado de S. Paulo", Lu Alckmin afirmou que recebeu 40 peças do estilista e que todas foram doadas à Fraternidade Irmã Clara "em três lotes, em anos consecutivos".

A entidade não confirma tais doações. Já o estilista reafirmou à Folha que doou 400 peças, ou cerca de 200 modelos completos, a ela.

"Quarenta roupas ou 400 não muda absolutamente nada. Então quer dizer que ela ganhou R$ 200 mil em presentes e não R$ 2 milhões? É improbidade administrativa do mesmo jeito", diz o deputado Romeu Tuma Jr. (PMDB-SP), autor do requerimento que pede explicações ao governador Geraldo Alckmin pelos "confortos proporcionados de graça à sua esposa". Os vestidos de Figueiredo custam de R$ 3.000 a R$ 5.000.

A presidente da Fraternidade Irmã Clara, Elizabeth Teixeira, diz "não ter conhecimento" das doações de 40 vestidos que teriam sido feitas à entidade pela primeira-dama. De acordo com Elizabeth, a FIC recebeu um telefonema de Lu Alckmin na terça, 28, dois dias após a Folha ter publicado reportagem com as revelações do estilista. A primeira-dama disse a ela que faria uma doação. "Foram dez vestidos de festa", afirma Elizabeth, entregues todos no mesmo dia. "Que eu saiba, foi a primeira doação de vestidos".

As doações feitas pelo estilista a Lu repercutiram de forma negativa entre os aliados de Alckmin. O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), por exemplo, afirmou: "Imagine o tamanho de um armário para guardar tudo isso". Para Maia, que já defendeu o impeachment de Luiz Inácio Lula da Silva porque a primeira-dama, Marisa Letícia, recebeu 27 tailleurs de graça de um estilista, "é claro que a senhora Lu Alckmin deve prestar todas as informações, pois não foi na condição de pessoa física que recebeu tantos regalos".

"Eu tenho a prova de que foram feitas mais de 400 peças de roupa", diz Figueiredo. "Foram quatro anos [de 2001 a 2005], ela não tinha nem o que vestir. Só de tricôs e casaquinhos foram mais de cem. Vestidinhos básicos, milhares. Ela nunca pagou nada".

"Sua sócia, Kátia Grubisich, mulher de José Grubisich, presidente da Braskem, confirma que o estilista fala a verdade. "Está chato para ela [Lu Alckmin], não é? Eu sinto muito. O assunto tomou um rumo diferente, virou político." Kátia é sócia de Figueiredo desde maio de 2005.

Ângela Guadagnin volta ao Conselho de Ética

O presidente da Câmara, Aldo Rabelo, fez muito bem. E o deputado Roberto Freire com tantos anos de mandato deveria ter vergonha de não saber fazer uma representação.
Bel

FELIPE RECONDO
da Folha Online, em Brasília

A deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) está de volta ao Conselho de Ética. O afastamento da deputada pela "dança da pizza" no plenário da Câmara dos Deputados durou apenas 24 horas. O presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP), acolheu na quinta-feira representação do PPS contra a deputada.

No texto, o partido pedia uma punição para a deputada, mas não tratava de perda de mandato por quebra de decoro. Justamente por isso a deputada não podia e nem precisava se afastar das atividades no Conselho.

O regimento determina que o parlamentar que integra o Conselho de Ética deve se afastar das atividades quando tiver de responder a um processo por quebra de decoro. A punição mais branda não demanda abertura de processo. A definição da penalidade, nesse caso, é da Mesa Diretora da Câmara, ou seja, é uma pena administrativa.

A análise da Secretaria Geral da Mesa gerou reação imediata do presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE)."O Aldo Rebelo [presidente da Câmara] mais uma vez desmoraliza as instituições. Aquele ato [a dança] chocou a sociedade", afirmou. "A falta de compostura não é motivo para cassação, mas não pode ficar sem punição."

Relator acusa "corruptores", mas ameniza com "corrompidos"

CPMI DOS CORREIOS

Relator acusa "corruptores", mas ameniza com "corrompidos"
Os deputados que receberam o chamado "mensalão" não foram indiciados por corrupção passiva no relatório final da CPMI dos Correios. Apenas por crimes eleitoral e fiscal. Se não foram subornados, como pode alguém ser acusado de subornar?

Nelson Breve – Carta Maior

BRASÍLIA - As 1828 páginas do relatório apresentado nesta quarta-feira (29) pelo deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) retratam bem o que aconteceu nesses 10 meses de atuação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional destinada a apurar casos de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. A despeito de terem encontrado fortes indícios de esquemas envolvendo políticos de diversos partidos, inclusive dos que hoje estão na oposição ao governo federal, o foco das investigações e das denúncias foi colocado sempre sobre o PT e seus integrantes.
O "valerioduto" (alcunha recebida pelo esquema de desvio de verbas públicas e privadas controlada pelo publicitário Marcos Valério) é apresentado como um esquema de desvio de recursos públicos em benefício de partidos políticos e de pessoas.
Quem lê as conclusões e indiciamentos do relatório fica com a impressão de que a falcatrua começou com o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares. No entanto, as linhas investigativas abortadas ou desconsideradas indicam que o esquema começou a ser operado na administração do governador tucano Eduardo Azeredo, em Minas Gerais. Infiltrou-se no governo federal do presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. Ramificou-se para governos estaduais, como os de São Paulo (administração tucana) e do Distrito Federal (PMDB). E prosseguiu no governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva.
As tintas do relatório reproduzem as opções de investigação feitas pela CPI. Do "valerioduto", só interessou o que fosse necessário para sustentar a existência do esquema ilícito de cooptação de apoio político denominado "mensalão". A CPI abandonou a investigação das relações suspeitas entre as agências de publicidade DNA e SMPB, do lobista Marcos Valério, e o Governo do Distrito Federal (GDF) na administração do peemedebista Joaquim Roriz (que esta semana declarou apoio ao candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin).
Foram R$ 74,2 milhões repassados pela Secretaria de Fazenda do DF e pela estatal Terracap ao "valerioduto". Da mesma forma, permaneceram nebulosos os vínculos do "valerioduto" com o governo do estado de São Paulo, especialmente as transações entre a Telesp, antes de ser privatizada, e a SMPB-SP. Pelas contas da SMPB-SP passaram R$ 104 milhões de abril de 1997 a março de 1999. Desse total, R$ 41 milhões foram repassados pela Telesp.
A CPI não levou adiante essas investigações alegando que invadiam a esfera estadual. Mas, sequer citá-las no relatório é omissão. Até porque o governo tucano não deixa a Assembléia Legislativa de São Paulo abrir investigação alguma. O exemplo mais recente é a denúcia do mensalinho da Nossa Caixa para comprar apoio no Legislativo estadual. No GDF também há interesse nessa investigação, até porque a Câmara Legislativa local também repassava recursos ao "valerioduto".
A ligação das empresas de Marcos Valério com outras empresas privadas interessadas em boas relações com o governo federal e o governo mineiro foram mencionadas de passagem. O nome do empresário Daniel Dantas, ligado ao PFL, mal aparece no relatório, embora empresas do grupo BrasilTelecom, administradas por ele, tenham irrigado generosamente as contas de Marcos Valério. Entre 2000 e 2005, foram R$ 122,3 milhões da Telemig e R$ 36,5 da Amazônia Celular.
A Usiminas não foi investigada, também, apesar de indícios fortes de participação maior no esquema de financiamento ilegal de campanhas eleitorais por intermédio do Valerioduto. Os repasses foram da ordem de R$ 32 milhões em cinco anos.O critério de não levar as investigações para o plano estadual perdeu sustentação na medida em que o relator viu-se obrigado a incluir o esquema voltado para a reeleição do senador tucano Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais, em 1998.
Se a justificativa para não excluir esse caso foi “não refugir ao que estivesse relacionado com o Valerioduto”, as transações com a Telesp e o GDF também deveriam ser mencionados da mesma forma.
O esquema para tentar reeleger Azeredo é idêntico ao que a CPI considera “desvio de recursos públicos para partidos e pessoas”. Tem agência de publicidade, tem contrato com o governo, tem empréstimos, tem repasses para políticos em campanha. É possível até que tenha sido usado em eleições anteriores à de 1998.
A licitação que abriu as portas do governo de Minas para as agências de publicidade de Marcos Valério foi a primeira realizada pelo governo Azeredo quando tomou posse em janeiro de 1994.Pelo relatório dá para perceber que a CPI usou critérios distintos para analisar e julgar tucanos e petistas.
Enquanto Azeredo e seus operadores foram indiciados por crime eleitoral, que já prescreveu. Os petistas José Dirceu, Luiz Gushiken, José Genoíno e Delúbio Soares foram enquadrados por corrupção ativa (Gushiken também foi indiciado por tráfico de influência, Genoíno, por falsidade ideológica e crime eleitoral, e Delúbio, além destes, por lavagem de dinheiro e peculato).
A defesa de Azeredo é considerada no relatório. A dos petistas, não.Pelo contrário, na tentativa de reforçar os argumentos, a CPI recorre a pareceres do Conselho de Ética da Câmara. No caso de José Dirceu, a investigação não avançou em nenhum ponto a partir do encaminhamento do relatório parcial ao Conselho de Ética. Pelo contrário, considerações levantadas antes foram retiradas no relatório final.
Serraglio considera Dirceu o grande idealizador do “esquema de corrupção destinado a garantir uma base de apoio ao governo na Câmara dos Deputados” com base, exclusivamente, na palavra do ex-deputado Roberto Jefferson, cassado por não ter comprovado suas acusações.
O relatório contém uma contradição incontornável que inibiu qualquer outro tipo de indiciamento de Dirceu. Se os empréstimos eram fictícios, porque o então ministro da Casa Civil precisaria ser o avalista político perante os bancos Rural e BMG? Por essa razão, Dirceu foi indiciado apenas por corrupção ativa, como responsável supostamente pelo pagamento de suborno aos deputados.
Estes mesmos deputados, no entanto, não foram indiciados por corrupção passiva. Apenas por crimes eleitoral e fiscal. Se não foram subornados, como pode alguém ser acusado de subornar?
Fora Jefferson, apenas o tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri, faz ilações com base no que teria ouvido, ou do próprio Jefferson, ou de Delúbio e Genoino. Estes negam. Na palavra contra palavra, o relator prefere dar o crédito aos acusadores.Assim foi a CPI. Tem crédito quem acusa o PT ou o governo. Não tem quem acusa outros partidos.
O lobista Nilton Mourão, que denunciou a Lista de Furnas, considerada falsa por perícias encomendadas pela CPI, não foi ouvido por falta de credibilidade. “A lista pode ser falsa, mas quantos criminosos não foram ouvidos na CPI?”, questiona o deputado Jamil Murad (PCdoB-SP).
Qual a credibilidade do doleiro Toninho da Barcelona, que levantou suspeitas e depois precisou declarar que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, era inocente para acalmar o mercado financeiro?
O relatório faz um esforço muito grande para comprovar a tese do mensalão. Consegue demonstrar que existiram repasses sistemáticos. O Caso do PL é o mais evidente. O partido começa a receber quotas semanais de R$ 500 mil no início de 2003. Fica algum tempo sem receber, depois os repasses caem para R$ 300 mil semanais, R$ 200 mil e R$ 100 mil. Os partidos envolvidos asseguram tratar-se de pagamento de dívidas eleitorais e preparação da campanha para as prefeituras, em 2004. Essa justificativa pode não ser verdadeira, mas o relatório não consegue desmontá-la.
As tentativas de demonstrar coincidências entre repasses e votações importantes no Congresso não são convincentes. O relatório se apóia em um parecer inconsistente do deputado Julio Delgado no processo de cassação de José Dirceu.
Ele menciona uma série de telefonemas e desembolsos no período de votações importantes, como Lei de Biossegurança, desoneração do PIS e da Cofins, liberação do plantio de soja transgênica e outros em que os conflitos eram setoriais e não partidários. E a maior parte dos recursos mencionados foi para parlamentares do PT.
Além disso, os trechos utilizados por Seraglio não constam mais do parecer de Delgado. Foram suprimidos por decisão judicial, pois foram obtidos indevidamente da própria CPI. Isso desmoraliza a CPI, que não foi capaz de fazer os cruzamentos das informações.
A maior desmoralização da CPI, no entanto, é dizer que tem mensalão e não indiciar os mensaleiros.

Thursday, March 30, 2006

Relatório ou obra de ficção?

O relator da CPI dos Correios apresentou ontem o seu relatório em que conclui que o “mensalão” foi uma realidade. Mesmo sem a existência de nenhuma prova concreta, mesmo que a própria CPI do mensalão não tenha chegado a nenhuma conclusão a esse respeito e sequer tenha apresentado um relatório.

Mesmo assim, o Sr. Serraglio resolve tirar as suas próprias conclusões, baseado em disse-me-disse e em reportagens pouco confiáveis da mídia conservadora. Para fundamentar as suas fantasiosas conclusões, cita inclusive trecho de artigo da Srª Lúcia Hippolito, a quem ele classifica de cientista política.

Aí fico pensando: como devem se sentir nessas horas os verdadeiros cientistas políticos? Como deve se sentir um Cândido Mendes? Com deve se sentir o meu grande mestre José Murilo de Carvalho, num país em que tudo é usurpado, até os títulos?
Serraglio segue então a sua tresvairada leitura do resumo do relatório e além de concluir que ouve mensalão, sugere o indiciamento do ex-ministro José Dirceu por corrupção ativa. Acusa-o de ser o responsável pelo fictício esquema que todos nós já cansamos de saber ter sido fruto de uma manobra mesquinha da oposição, a fim de desgastar o governo, o PT e subtrair da cena política o principal quadro do Partido, o ex-ministro José Dirceu.
Já esperávamos que fosse essa a conclusão final do relator, pois em nenhum momento ele se mostrou coerente entre os boatos e os fatos que sempre desmentiram as manchetes sensacionalistas que a mídia tucana todos os dias estampava em seus veículos de comunicação.
Entretanto, não posso deixar de questionar a presença, como presidente dessa CPI, do petista postiço Delcídio Amaral. O que faz ele ali? O que faz ele no nosso Partido? Como se atreve a compactuar com um relatório que pede o indiciamento de José Dirceu por corrupção? Onde estão as provas que justificam esse pedido?
Estamos enfrentando uma das maiores crises que esse país já viu, impulsionada como já sabemos, pelas forças políticas retrógradas, inconformadas com a perda de poder, que os novos tempos anunciam. Sendo assim é de extrema importância ter clareza do caminho a seguir. Não podemos aceitar que um sujeito como esse, esteja filiado ao PT e presida essa CPI com uma postura de total sintonia com os nossos algozes.

É evidente que estamos travando uma luta de classes repaginada e aí não posso deixar de citar Thompson (Historiador inglês do século passado – 1924/1993), para ele classe tinha a ação humana como condicionante. A partir dessa leitura podemos afirmar que a nossa ação tem sido no sentido de nos reafirmarmos enquanto classe social menos favorecida, buscando as oportunidades perdidas em anos de dominação, porém sem perder a nossa identidade. E é essa clareza do que somos, de onde estivemos, estamos e pra onde vamos, que não podemos perder.
Continuemos jogando o jogo e lutando a luta, sem jamais, entretanto esquecermos de quem somos.

Bel

Wednesday, March 29, 2006

Boletim Cultura PT

29/03/2006

TEIA de Cultura/ Educação,Cidadania e Economia Solidária - de 5 a 9 de abril no Pavilhão da Bienal, Parque Ibirapuera em São Paulo


Índice

Cultura inscreve hoje para concurso - Jornal de Brasília - 29/03/2006
Frente da Cultura pretende reunir esforços e orçamento para a área – Boletim Informes – 29/03/2006
Relatório da TV digital fica pronto amanhã - Jornal do Commercio - 29/03/2006
Luta de classe afinada - Jornal do Brasil – RJ – 29/03/2006

Acesse também o sitio da Secretaria Nacional de Cultura do PT pelo endereço www.pt.org.br
Se você também tem notícias de seu estado ou cidade e quer divulgar em nosso boletim, basta enviar para o e-mail cultura@pt.org.br, a/c Roseli.
Cultura inscreve hoje para concurso - Jornal de Brasília - 29/03/2006

Interessados podem se candidatar a partir de hoje ou até o dia 19 de abril para vagas de nível superior ou médio

Começam hoje as inscrições para o concurso do Ministério da Cultura, Fundação Biblioteca Nacional, Funarte e FCP. Serão oferecidas 215 vagas, divididas entre nível superior e médio. Os salários serão de R$ 1.768 e R$ 1.560, respectivamente. Do total de cargos, 64 serão destinados para o DF.

As inscrições podem ser realizadas até o dia 19 de abril no site http://concurso.fgv.br/inscrição/minc06. As taxas vão de R$ 39,02 a R$ 44,22. Além do Ministério da Cultura, haverá seleção para o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), que abriu 25 vagas para analista especializado em softwares. O salário inicial é de R$ 3.642. Do total, 15 postos serão destinados a Brasília, enquanto o restante será para São Paulo.

Para disputar as vagas, o candidato precisa ter diploma superior em tecnologia da informação e comunicação ou de ciências exatas. Pessoas com graduação que possuam curso seqüencial de formação em software básico também poderão participar da seleção. As inscrições poderão ser feitas no site do Cespe (www.cespe.unb.br/concursos), de 3 a 16 de abril. A taxa é de R$ 50.

O Banco do Nordeste publicou edital oferecendo 95 vagas. O salário é de R$ 1.893, sujeitos a gratificações extras. As provas serão feitas em Brasília, Fortaleza, Recife, Salvador e São Luís. Sendo que as inscrições irão de 4 a 19 de abril. Interessados podem acessar www.concursos.acep.org.br, e pagar uma taxa de R$ 80.

provas No próximo domingo, serão realizadas as provas para pesquisador da Embrapa. As provas serão aplicadas na Unb. Para pesquisador II (nível mestrado), o horário do exame é às 8h. Já para pesquisador III (nível doutorado), é às 15h. A previsão é que até junho a Embrapa abrirá mais vagas para técnico de nível superior.

No mesmo dia, acontecerão as provas objetivas do concurso do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Locais e horários pelo site www.cespe.unb.br/mdic2006.
Frente da Cultura pretende reunir esforços e orçamento para a área – Boletim Informes – 29/03/2006

Com o objetivo de reunir iniciativas do Executivo e do Legislativo para um novo desenvolvimento cultural, foi instalada ontem a Frente Parlamentar da Cultura. A frente conta, até agora, com a assinatura de 122 deputados de diversos partidos. O lançamento reuniu o ministro da Cultura, Gilberto Gil, parlamentares e representantes de movimentos culturais. Gil afirmou que a iniciativa representa "a responsabilidade coletiva que nossa sociedade tem em entender a cultura como algo estratégico".

Ele defendeu a concretização de pautas prioritárias, entre elas a aprovação da proposta que vincula percentuais orçamentários ao Ministério da Cultura, a ratificação pelo Brasil da convenção internacional sobre diversidade cultural, e a aprovação do Plano Nacional de Cultura. "Temos questões imediatas a trabalhar", afirmou.

Para o deputado Paulo Rubem Santiago (PT-PE), por reunir um maior número de deputados como mesmo propósito, a frente poderá obter resultados efetivos. "Vamos trabalhar para a aprovação da PEC que vincula os recursos federais, estaduais e municipais para o orçamento da cultura (PEC 150/03). Já entregamos a PEC ao presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e esperamos a instalação de uma comissão especial. A frente irá encaminhar iniciativas práticas", afirmou.
Relatório da TV digital fica pronto amanhã - Jornal do Commercio - 29/03/2006

A apresentação do relatório é uma exigência do decreto de 2003, que definiu a necessidade do País estudar o modelo brasileiro de TV digital

governo, deverá concluir amanhã o relatório com a proposta para a implantação do novo serviço no Brasil. Com o relatório em mãos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá condições de decidir qual será o padrão da TV digital a ser implantado no País – japonês (ISDB), europeu (DVB) ou norte-americano (ATSC). Segundo uma fonte do governo, os ministros já chegaram a um consenso.

A apresentação do relatório é uma exigência do decreto de 2003, que definiu a necessidade do País estudar o modelo brasileiro de TV digital. O conselho terá que recomendar ao presidente, além do padrão tecnológico, o modelo de negócios a ser implantado. Isto é, se a TV digital será de alta definição, com som e imagens melhores do que o cinema, ou standard, mas permitindo a transmissão de até quatro canais.

O conselho de desenvolvimento é formado pelos ministérios da Fazenda, das Comunicações, do Desenvolvimento, de Ciência e Tecnologia, da Cultura, de Relações Exteriores, da Educação e do Planejamento e a Casa Civil.

Uma equipe de ministros deverá seguir no dia 9 ou de 10 de abril para o Japão e a Coréia do Sul. Eles vão visitar as fábricas de semicondutores japonesas e de cristal líquido na Coréia. O governo deve dar preferência a investidores que instalarem indústria no País.

Japoneses e os europeus manifestaram interesse em construir a fábrica, mas não há ainda um compromisso formal de nenhum dos lados.
Luta de classe afinada - Jornal do Brasil – RJ – 29/03/2006

Artistas levam grande público à Lapa em show contra direção da Ordem dos Músicos do Brasil

O espaço não poderia ser mais apropriado para um show em defesa de uma Ordem dos Músicos do Brasil mais democrática: os Arcos da Lapa, local que sempre acolheu as mais diversas manifestações artísticas. De forma tímida, o público se aproximava do espaço ao redor do palco, enquanto os técnicos de som e músicos acertavam os últimos detalhes. Pouco depois das 16h de anteontem, hora marcada para o início do show Fora de Ordem - que começou apenas às 17h20 - o céu fechado desencorajava curiosos que interrompiam seu trajeto ante à inusitada movimentação e fãs das atrações programadas para subir ao palco até o fim da noite. Mas logo as nuvens dissiparam, abrindo espaço para as estrelas que se reuniram para cantar, tocar e protestar.

A linguagem musical uniu representantes do samba, do rock, do soul/funk e da música clássica. Mas as faixas afixadas ao palco - Música é liberdade!, Uma vida melhor, Dignidade profissional - não deixavam dúvidas sobre o caráter de mobilização política do evento. O embate entre os artistas reunidos no show pelo Fórum Permanente de Música do Rio de Janeiro e a administração da OMB - cuja representação regional cassou, no fim do ano passado, o registro profissional do músico Eduardo Camenietzki, que encabeçava um abaixo-assinado contra a antecipação das eleições da entidade - foi esmiuçada ao público em depoimentos de medalhões como Beth Carvalho, Chico Buarque e o próprio ministro da Cultura Gilberto Gil, exibidos em telões ao lado do palco.

Mas os ídolos que levaram um número surpreendente de pessoas à Lapa numa segunda-feira à noite também se mostraram afinados com o discurso de seus pares:
Espero nunca mais ouvir falar que nossa classe é desunida - defendeu o sambista Jorge Aragão.

Alcione engrossou o coro dos descontentes:
Estamos aqui para cantar e protestar contra o que fazem com os músicos. Precisamos criar leis que nos protejam.

Ivo Meirelles, que se apresentou com seu grupo Funk'n Lata, ressaltou a necessidade da regulamentação profissional:
Temos que deixar de ser marginais e ter uma profissão realmente regulamentada. Porque no Brasil o artista sem projeção continua sendo marginalizado.

Zélia Duncan fez uma mea culpa da classe:
Falar mal de tudo é fácil. Difícil é sair de casa para protestar. Temos que melhorar nossa idéia sobre a profissão. Parece que essas questões só importam para quem não está sob os holofotes.

Frejat, que tocou acompanhado dos demais integrantes do Barão Vermelho, além de Zélia Duncan e Jards Macalé, destacou a presença do público, mas disse que o show foi importante para a própria mobilização dos artistas.

As pessoas que estão assistindo não precisam entender completamente as questões envolvendo os músicos e a Ordem. Mas é ótimo que elas estejam participando junto conosco. Nossa profissão tem o privilégio de levar diversão ao público, mesmo quando estamos protestando - brincou o cantor.

Lenine também elogiou a união em torno de uma causa comum:
A gente está sempre negligenciando os problemas profissionais por conta do trabalho, das viagens, da família. Esta noite foi uma prova de coesão, um exemplo de mobilização profissional. E o mais importante é que não houve um fundo político, foi um movimento da classe.

Como destacou o cantor pernambucano, nenhum político subiu ao palco para discursar junto aos músicos. Ainda assim, muitos deles apoiaram o protesto, como os deputados Fernado Gabeira (PV), Carlos Minc (PT) e Jandira Feghalli (PC do B).

Estou aqui como política e baterista, registrada na OMB desde 1970. Vamos fazer dessa movimentação um instrumento para agilizar no Congresso projetos para a área, desde da lei antijabá até medidas que permitam mudanças na OMB - adiantou a deputada.

Camenietzki, que fez um discurso inflamado contra os dirigentes da OMB, afirmou que o show de anteontem foi apenas o primeiro passo para uma mobilização de maior porte:

Os fóruns dos outros estados sugeriram que o Fora de Ordem se torne um evento anual, com uma participação mais ampla de artistas de todo o Brasil.
Secretário Nacional de Cultura PT: Glauber Piva
Coletivo Nacional de Cultura PT: Carlos Henrique Gonçalves (PA), Cleise Campos (RJ), Elida Márcia Lana da Silva (MG), Glória Pereira da Cunha (SP), Hamilton Dias Braga (RS), Hamilton Pereira da Silva (DF), João Francisco dos Santos (SE), Maria dos Prazeres Firmino Barros (PE), Morgana Eneile (RJ), Rômulo Brando Assis Ribeiro (AC), Arnaldo Godoy (MG), Cláudia Lobo (MA) e Claudinei Pirelli (DF).
Assessoria e Produção do Boletim: Roseli Oliveira

Secretaria Nacional de Cultura do PT
Rua Silveira Martins, 132, São Paulo, SP. CEP 01019-000
Telefones: (0**11) 3243-1371/3243-1372 – Fax: (0**11) 3243-1370
Correio Eletrônico: cultura@pt.org.br – Sítio: www.pt.org.br

Breve, muito breve, Nelson

Brasil

Fernando Soares CamposLa Insignia. Brasil, março de 2006.

"Há um movimento golpista incitado por aqueles que dizem abertamente estarem cansados do governo Lula. Como não há um ambiente propício para um golpe militar, hoje, no Brasil, os golpistas enrustidos [enrustidos?] partem para a incitação de outras instituições." Nelson Breve, em "A apologia do golpe", Agência Carta Maior (1).
Esta é, a meu ver, uma crença ingênua, a de que "... não há ambiente propício para um golpe militar, hoje, no Brasil".
Realmente, o incitamento, hoje, é para que o Congresso Nacional, principalmente o Senado, ou confiando acima de tudo nesta instituição, concretize o golpe; porém, no caso de este vir a se consumar, as Força Armadas seriam convocadas (e elas já se colocaram à disposição) para agir de imediato (urgente!) contra "o narcotráfico", "o contrabando de armas" e "o crime organizado em geral", em operações urbanas.
Hoje (27/03) assisti, através da TV Senado, ao senador Magno Malta (PL-ES) elogiando a atuação do Exército no enfrentamento ao tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Dizia ele que a operação cerca-boca, a da busca das armas roubadas de um quartel em São Cristóvão, foi realizada de forma tão perfeita que, durante as manobras, até mesmo o número de bala perdida diminuiu (acho que o senador "assistiu" ao último episódio de Bonnie & Clyde of Goitacaz's Fields), e ele acredita ainda que a governadora Rosinha Garotinho e seu marido "governadoro" apoiariam uma nova ação dessa natureza, disponibilizando reforço policial, pelo bem do povo e felicidade geral da Nação. O senador chegou a sugerir que se evacue cerca de 200 famílias em cada favela, assentando-as em local seguro, e que em seus lugares sejam instaladas as tropas que promoveriam a paz nas favelas. Aleluia, irmão!
Entenderam? Ou, como diria Pelé, entende?
Pois bem, para quem ainda não entendeu, eu explico o que entendi: desta vez as Forças Armadas não estariam a serviço de um golpe de Estado, entende? A ação seria em benefício da "segurança pública", entende? Com as Forças Armadas combatendo "o narcotráfico", "o contrabando de armas" e desenvolvendo outras ações voltadas para a "segurança do cidadão", em operações urbanas, entende? A população em geral, "satisfeita" (vimos, há pouco tempo, em duas semanas de enquete em todos os jornais do Rio, 93% da população apoiando a intervenção militar, entende?), pois bem, a população "satisfeita", refém da violência urbana, certamente apoiaria o combate a possíveis revoltas de "petistas baderneiros", que insistissem em pedir a volta do presidente, entende? Provavelmente, o Exército também combateria as ações "violentas" dos sem-terra, como as que foram mostradas hoje (27/03) no Jornal Nacional, na tela da Globo, entende?! Alguns sem-terra saqueando caminhões, mais laboratórios depredados por sem-terra (informou o âncora), e a polícia assistindo a tudo, "impassível", "impotente", numa estrada, em Alagoas. Onde nasci, me criei e sei que um tiro para o alto faria todo mundo ali correr léguas, entende? Mas os policiais apenas assistiam. E, nas salas de estar, botequins, recepções, ante-salas e onde mais se costuma manter um televisor ligado na Globo, muita gente deve ter gritado : "Só o Exército pode restaurar a ordem!", entende? Pois bem, depois de tudo isso, quem você acha que durante toda a semana será chamado de fraco? Para os que assim pensam, ser forte é ser truculento, é agir como no Estado do Pará, em 17 de abril de 1996, quando 19 trabalhadores rurais foram fuzilados, o que ficou conhecido como massacre de Eldorado dos Carajás.
Não duvido que, a qualquer momento, entrevistem alguns generais e os consultem sobre as possibilidades de um iminente golpe de Estado. Eu já vi coisas assim: repórteres perguntando a generais se existia algum golpe em andamento. Como se algum conspirador admitisse as intenções de golpear. Não estou com isso dizendo que algum general conspira, atualmente, no Brasil, refiro-me à "ingenuidade" de certos profissionais de imprensa.
Conspiração contra um governo (qualquer que seja) é uma constante, é uma atitude comum a oposições. Golpear um governo não depende apenas de "clima" ou "ambiente"; mas, acima de tudo, de oportunidade. E essa oportunidade a oposição brasileira está criando, com o apoio da mídia golpista, pois quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Lembram-se? Quer dizer, entende? Os tempos são outros, os métodos talvez também sejam outros, mais sutis, porém não menos violentos.
Milhares de pessoas já morreram porque não acreditavam em golpe militar iminente. Duvido que, na manhã de 31 de março de 64, os militantes de esquerda e a população brasileira em geral acreditassem que, naquele mesmo dia, os tanques estariam nas ruas.
Eu perguntaria aos companheiros chilenos se eles poderiam nos relatar como se sentiam no dia em que bombardearam o La Moneda e eliminaram o presidente Salvador Allende. Se haviam sido notificados sobre o "evento". Se os companheiros argentinos, por acaso, receberam algum boletim informativo com uma nota do tipo "Amanhã cedo vamos golpear". Como foi o primeiro dia de matança aí na Argentina, hein? Como estava o clima naquele dia? Muito frio? Chuvoso? Nevasca? Calor?
Agora, aterrissando novamente em terras tupiniquins, vejamos alguns trechos do que escreveu o capitão-de-mar-e-guerra Cláudio Buchholz Ferreira, no Manifesto dos Companheiros das Forças Armadas, em outubro de 2005:
"Em um momento da vida nacional em que o povo mais precisa das Forças Armadas para o restabelecimento da ordem e da garantia das Instituições, fiquem certos de que elas não se acovardarão ante o processo de desvalorização dos seus integrantes e da premeditada ação de anulação de sua capacidade de reação e de cumprimento do seu dever, nem em face de tentativas de implantação de regimes totalitários, contrários às nossas mais sagradas tradições." (...) Não temos permissão para nos acomodar. Por juramento, somos obrigados a tomar uma atitude. Chega de chantagens emocionais "quartelada", "golpe", "patrulhamento". (...) Fazemos votos para que aqueles que, em dissonância com a história, ainda pretendem implantar no Brasil um estado totalitário, desistam da idéia, porque não é isso que os brasileiros querem e se eles não querem nós não vamos deixar que isso aconteça. O que todos querem é muito simples: imprensa livre, repetindo, IMPRENSA LIVRE..." (Para ler o texto completo, use o link 2)
Imprensa livre, entende? Como se liberdade de imprensa conferisse o direito à mentira, ao engodo, às meias-verdades, às acusações precipitadas, sem que o acusado tenha direito a defesa. O AI-5 do general Costa e Silva, em 68, impôs o fechamento do Congresso Nacional; no entanto, nos dias de hoje, com a imprensa e o Congresso que temos aí, nem precisa cassar mandatos, nem precisa impor censura à imprensa. Pra quê?! Eles já aprenderam a autocensurar-se, a obedecer, a mancomunar-se. Nada de atos de exceção, hoje basta o que já temos aí: impérios jornalísticos a serviço do poder econômico, engasgados com um presidente de origem paupérrima, de pouca instrução formal, mas competente, ensinando como se governa um país. Isto, para as oligarquias que dominaram este país durante séculos, é inaceitável. Não adianta multiplicarem seus lucros, o importante para elas será a retomada do poder institucional. Imaginem quantas madames estão torcendo o nariz para a primeira dama, quanta cobrança fazem aos seus maridos, instigando-lhes o ódio e a cobiça. Quanta inveja! Imagine de quanta covardia serão capazes, para novamente se apossarem do trono.
Com o clima existente, hoje, aqui no Brasil, vendo aqueles senadores cuspir, a gente tem a certeza do ódio, da conspiração. Hoje (27/03), quando o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), na Tribuna do Senado, aos berros, acusava o atual governo de ter inventado a corrupção, o homem lançou placas de cuspe e babou abundantemente ao pronunciar o nome do presidente Luiz Inácio Lula das Silva. Assim sendo, para nos protegermos, para não sermos surpreendidos, a gente precisa acreditar em golpe, completo, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Breve, muito breve, Nelson.

Nelson Breve foi repórter das rádios Eldorado e CBN, da Agência Estado e do Jornal do Brasil, e assessor de imprensa da Confederação Nacional da Indústria e do ex-deputado José Dirceu. Retorna à Carta Maior para atuar como repórter especial na Sucursal de Brasília.

USAR O QUE ESTIVER AO NOSSO ALCANCE

Amigos, não estou tentando demonstrar que no nosso país, hoje, não existe um golpe militar em andamento, porque isso é evidente. Ou seja, que não há "clima" ou "ambiente" para golpe militar. Mas o que vemos, hoje, são os golpistas de sempre, alguns até já exibindo suas crias e treinando-as para novos embates.
Vejamos, por exemplo, a queda e cassação do Dirceu, uma atitude golpista. A queda do Palocci.

Vejamos o "efeito dominó" conforme o PFL passa à população, dando a impressão de que são os próprios impérios midiáticos que estão alertando a população. Para milhões de pessoas menos atentas (milhões), quem veiculou aquelas imagens foram as próprias empresas jornalisticas, para o povão, foi a televisão!

O PFL, com vergonha de si próprio, esconde a sigla, que, no final da exibição das pedras do dominó caindo, aparece lá num cantinho, camuflada. Alguém ainda acha que os golpistas não conseguiriam deflagrar (porque engendrado já está) um "escândalo" contra o presidente Lula? Um enredo "abominável"! Inventado! Coisa do tipo que quase ocorre nas eleições de 2002. Um golpe impedido pela ação de homens de bem, que conseguiram demovê-los da asquerosa idéia, com ajuda do próprio FHC, que deve ter fingido que não sabia de nada, mas que acabou mandando seus cupinchas abortar o plano.

Em 2002 eles ainda tinham esperança de ganhar as eleições, mesmo que fosse por obra e graça de um milagre, por isso foram demovidos de suas más intenções. Quando perderam a eleição presidencial, passaram a acreditar que o governo do presidente Lula seria um desastre, e esperaram, "conformados" com a derrota, que o governo caísse de podre pela incompetência.

Nada! Pelo contrário, aí estão os resultados: um banho de competência. Certamente ninguém acredita nem precisa nem deve acreditar em golpe à antiga, com os tanques cercando o Palácio do Planalto e defenestrando o presidente; assim, à força. Quando os números, os gráficos e os relatórios demonstraram que este governo, tendo à frente um homem de pouca instrução formal, mas de muito saber empírico, fazia as nossas instituições darem um salto qualitativo e melhorava a qualidade de vida daqueles que só serviam pra eleger demagogo, o jeito foi criar o "Congresso Delegacia", nos moldes em que estamos assistindo.

Apoiados por uma mídia que nem se defende das acusações de parcialidade e conivência, como podemos ler em centenas (milhares?) de textos na internet. Pelo visto, ainda assim, aparentemente, estão em desvantagem. E o desespero bate à porta daqueles que sonham, em pesadelos hitchcockianos, com os seus retornos ao poder institucional, porque o poder econômico eles têm, suficiente para queimar dezenas de fazendas e laboratórios da agroindústria, grana suficiente para a perda de muitas cargas nas estradas, até para perderem um pouco, por uma "nobre" causa, com a queda na venda de drogas.

Tudo, tudo mesmo, todo tipo de covardia será colocada em prática para depor o presidente Lula.

Não duvidem de nada! E tudo acontecerá com as bênçãos do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ou alguém acha que podemos contar com algum apoio de quem esteve no poder durante tantos séculos?

Não dá pra descartar nenhuma possível covardia. Para nos defender (e isso não é paranóia, está baseado no que assistimos), precisamos, no momento, acreditar em tudo isso que estamos vendo!

Enquanto não temos uma mídia a serviço do povo, a serviço de todos, o negócio é o seguinte: panfletagem, uso de todos os instrumentos dos quais dispusermos, para mostrar números, gráficos, relatórios, tudo!, tudo que pudermos fazer para comparar e demonstrar o BANHO DE COMPETÊNCIA

Fernando Soares Campos

CARTA AO CHEFE Como a IstoÉ tornou-se IstoEra

OBSERVATORIO DA IMPRENSA 28 MARÇO 2006

Luiz Cláudio Cunha (*)


Mensagem enviada pelo signatário, editor de Política da sucursal de Brasília da IstoÉ, a Carlos José Marques, diretor-editorial da IstoÉ - com cópias para Domingo Alzugaray, diretor responsável da Editora Três, e Alberto Dines, editor responsável deste Observatório. O OI procurou Marques por e-mail, às 19h43 de segunda-feira (27/3), solicitando uma manifestação sua; passadas 24 horas, não obteve resposta. De todo modo, o espaço para sua réplica está garantido. Intertítulos da Redação do OI. (L.E.)

"Jornalismo é a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter." Cláudio Abramo (1923-1987)

Marques, eu não o conheço e, certamente, V. me conhece menos ainda. Sou um devoto da palavra escrita. Minha inspiração é o bravo Churchill, meu conservador predileto, que atravessou as madrugadas de Londres iluminadas pelas bombas da Luftwaffe ditando bilhetes, lapidando discursos memoráveis e escrevendo a História que o faria ganhar a guerra. Como o velho bulldog inglês, estou com a alma angustiada pelo bombardeio da semana passada, que detonou o emprego de dois editores na sucursal, Amaury Ribeiro Jr. e Donizete Arruda e, por conseqüência, do chefe Tales Faria, demitido ao reagir com a dignidade devida à sua injustificada blitzkrieg. Sei que nem bilhete, nem discurso vão apagar este incêndio, mas silenciar agora seria admitir que V. está no caminho da vitória. "Não se ganham guerras com retiradas", advertiu o sábio Winston ao povo inglês, ainda inebriado pelo épico milagroso de Dunquerque. A inglória e enganosa retirada de Brasília marca um atalho perigoso para a derrota. Não se abate impunemente um profissional do talento e da integridade de Tales Faria sem lançar um véu de maus presságios sobre os novos tempos. Sob o comando dele, ao longo de sete anos, a Sucursal de Brasília de ISTOÉ chegou a sete finais de Prêmio Esso - e faturou três, uma delas com o demitido Amaury. O Tales - ao contrário de V., Marques - atende com sobras aos dois paradigmas expressos pelo Cláudio Abramo para esta profissão tão marcada por bombas, retiradas, derrotas, vitórias, dignidade e vilanias.


Com 55 anos de vida e 37 de estrada, já vi muita coisa bonita e muita coisa feia nas redações de jornais e revistas. Com este longo prontuário, sou praticamente uma página virada e, neste aspecto, V. ainda é um noviço no jornalismo. Eu só tenho passado e V., pelo que vejo, só tem futuro, muito futuro. Por isso, não quero perder aqui a chance de discutir não nossas carreiras, com inflexões tão distintas, mas o futuro imediato de algo que preocupa a todos nós: a revista ISTOÉ. Compartilho este debate com outras duas pessoas, e justifico. O Seu Domingo, por ser o interessado direto no futuro de sua revista, condicionado ao perfil e ao conteúdo dos profissionais que vão garantir sua qualidade e sua relevância. E o Dines, por ser o responsável e mentor do Observatório de Imprensa, um espaço nobre e influente na internet dedicado justamente ao objetivo central desta carta: a reflexão, a crítica, o debate maduro e responsável do que pensamos e do que fazemos como jornalistas, desde o mais modesto repórter até o mais poderoso chefão - como V., Marques.

Vivemos tempos muito estranhos, em que as coisas que precisam ser ditas ficam escamoteadas, camufladas, sussurradas, caladas. Nada se reclama, nada se critica, para preservar amigos, cargos, salários, posições, espaços de poder, enquanto o jornalismo vai se diluindo e dissolvendo na sua incapacidade de autocrítica. Não sou de freqüentar boteco, nem de extravasar minhas mágoas em mesa de bar, Marques. Prefiro ganhar a guerra resistindo, pensando e escrevendo. Sem mágoa, nem ressentimento, prefiro escancarar aqui - com a ajuda do Observatório da Imprensa - uma discussão que, na nossa restrita área de influência, ficaria confinada às conversas pouco conclusivas que envolvem só os personagens diretamente interessados - o diretor que demite, o chefe demitido, os editores perplexos, os repórteres confusos, todos nós desorientados e apreensivos com o novo passaralho que vem por aí na semana que vem, no mês seguinte, quem sabe?

Quero quebrar esta caixa preta e propor, com a serenidade recomendável e a prudência necessária, um debate sobre o papel que todos nós temos no empobrecimento continuado de algumas de nossas principais revistas semanais. A crise econômica, o custo do papel, a retração dos anunciantes, a concorrência da TV, o surgimento da internet e outros quesitos geralmente justificam a recorrente onda de enxugamentos nas redações de jornais e revistas, nivelando por baixo salários e profissionais. Esta é uma dura realidade, que não é nova nem parece prestes a acabar. Pelo contrário.

Onde o norte?

Neste quadro recessivo, que inquieta patrões e assusta empregados, é natural o surgimento do "jornalismo de resultado" e seus profetas - os executivos moderninhos que prometem redações baratas, revistas idem, amenidades muitas e reflexão zero. Apostam no padrão do leitor que consome mas não pensa, no perfil Homer Simpson que se satisfaz com o atendimento às suas demandas meramente consumistas, do estilo shopping center que simboliza o templo de devoção da classe média e seus periféricos. Para este tipo de leitor, com tanto a comprar e tão pouca disposição para ler, o jeito é o modelito USA Today, o jornalão fast food destes tempos midiáticos para uma leitura rápida, calórica e saborosa como um Big Mac. Assim, nossas semanais sofrem cada vez mais a tentação de atender a este novo mercado emergente, abdicando de sua função primordial: o texto mais consistente, mais abrangente, para refletir e ponderar sobre a salada de informações frenéticas e redundantes que o dia-a-dia de jornais, rádios, TVs e internet enfia goela abaixo do cidadão.

A revista, que devia ser o oásis de reflexão para ajudar o pobre leitor a atravessar esta overdose semanal de notícias e mais notícias, abdica de seu papel e mergulha no turbilhão do jornalismo rápido e rasteiro. A estética vale mais do que a essência. A forma se impõe ao conteúdo. O texto curto confina os detalhes. A foto, espelhada e escancarada, come os espaços de uma informação cada vez mais estrangulada. Tudo induz uma leitura ligeira, quase leviana, para não afrontar o relógio e a agenda do nosso leitor tão apressado. E, em vez de procurar saciar a fome de informação e conteúdo, a revista sucumbe e se submete à magra dieta jornalística que ela diz ser exigência do leitor moderno. Alguém está enganando alguém neste jogo.


Como a idéia, aqui, é dizer o que precisa ser dito, devo ser franco e direto: a atual ISTOÉ conseguiu, no espaço de poucas semanas, conquistar a merecida pole position no grid da mediocridade nacional. Uma revista, como diria Otto Lara Resende, bonitinha mas ordinária. Das grandes semanais brasileiras, clube que ela sempre integrou com honra e mérito, ISTOÉ hoje se transformou num arremedo da revista instigante, provocativa, inteligente que era. Sob seu tacão, Marques, a revista afundou num mar de futilidades e amenidades, tragada por uma pauta desorientada e açoitada por textos curtinhos de idéias e de talento.

Para uma semanal que já teve em seu timão capitães do porte de Mino Carta, Tão Gomes Pinto, Milton Coelho da Graça e Hélio Campos Mello, seria justo esperar uma travessia e um rumo mais definido. A revista perdeu o norte e corre o sério risco de virar uma publicação fútil e irrelevante, incapaz de arrastar o leitor de sua casa até a banca mais próxima. Leitor só levanta o traseiro do comodismo, como diria o companheiro Lula, atraído pelo furo, pela reportagem bem apurada e bem escrita, pela matéria que faz história, que consola os aflitos e aflige os consolados.
Bicada inexistente.


ISTOÉ, pelo jeito, não quer afligir mais ninguém, principalmente os poderosos. Deve ser por isso que a ISTOÉ desta semana consegue o milagre de produzir uma matéria sobre o caseiro Nildo, aquele que viu as bandalheiras da "República de Ribeirão Preto", sem citar uma única vez o santo nome de Antonio Palocci. E discorre sobre a vergonhosa quebra de sigilo do caseiro omitindo acintosamente o nome do assessor de imprensa Marcelo Netto, um dos suspeitos de envolvimento no crime. Reclamo porque fui eu que escrevi a matéria, e nela constavam os dois nomes - Palocci e Marcelo. Meu texto foi lipoaspirado, desintoxicado dos nomes do ministro e do assessor, e assim publicado. Por isso, recusei assinar a matéria, que não refletia o que o repórter mandou de Brasília na noite de quinta-feira 23 . E nem precisaria tanto drama, porque os nomes da dupla já estavam, desde manhã cedo, nas edições da Folha de S.Paulo e do Correio Braziliense. A revista não estaria fazendo carga contra ninguém, estaria apenas sendo fiel aos fatos. Perdeu uma bela oportunidade de não ficar calada. Até porque, momentos atrás, o Palocci acaba de se demitir, por todos os motivos que tínhamos e não explicitamos.


Ainda bem que a concorrente, a VEJA, cumpriu seu dever direitinho, colocando inclusive uma foto do Marcelo ao lado de seu protegido. Até o colunista Diogo Mainardi, sob o título um tanto explícito de "Marcelo Netto, Marcelo Netto", disse com toda a clareza: "Quem difundiu o extrato bancário do caseiro foi o assessor de imprensa de Palocci, Marcelo Netto. Desde a semana passada, todos os jornalistas sabiam disso. Marcelo Netto é jornalista. E jornalistas não denunciam jornalistas".

Silêncios assim, inexplicáveis, é que incomodam tanta gente que, como o filósofo Millôr Fernandes, acha que jornalismo é oposição - o resto é armazém de secos e molhados. Uma revista semanal com a história de ISTOÉ não pode acabar disputando espaço no cesto de revistinhas de sala de espera de dentista. Ninguém tem o direito de malbaratar o esforço sério de tantos profissionais talentosos, ao longo de tantos anos, que ajudaram a construir o prestígio e a importância de ISTOÉ no jornalismo brasileiro.


Falo isso porque o exemplo que vem de cima é preocupante. Sua estréia na direção da revista, na edição 1894 (de 8 de fevereiro de 2006), foi bombástica: uma entrevista forte de FHC. Título da chamada na capa: "A ética do PT é roubar". Só pra lembrar:

Era uma frase candente, que até destoava um pouco do estilo medido e comedido do elegante doutor honoris causa de Cambridge, Sorbonne e quetais. Por isso, valia o quanto pesava. O PT ficou tão furibundo que anunciou processo na Justiça pela injúria publicada. Mas exatamente um mês depois (8 de março de 2006), Cláudio Humberto publica a seguinte nota em sua coluna, sempre bem informada e comentada:


A dedução que se faz, a partir destes fatos, é que a bicada do tucano-rei simplesmente não existiu. Alguém no comando da revista achou por bem melhorar o que FHC diz, sempre com elegância e na maioria das vezes com propriedade. Ou seja, enxertaram uma frase, dura e agressiva, na conversa gravada de um ex-presidente da República, e tascaram o remendo na capa da revista! Em qualquer publicação séria, isso seria motivo para uma rápida apuração e inapelável demissão. Mas nada aconteceu.

Explicação possível

Podia ter sido um acidente de percurso, algo a ser relevado, travessura que não se repetiria mais. Bola pra frente! Mas eis que, quatro edições seguintes, na ISTOÉ 1898 (de 8 de março de 2006), que tinha como capa a pandemia da gripe aviária, é reservada a entrevista das páginas vermelhas ao ex-governador Anthony Garotinho, candidato dali a dez dias nas prévias do PMDB. E a gripe que deixou bicudo FHC também contaminou o coitado do Garotinho. A assessoria do ex-governador percebeu, com natural perplexidade, que o texto trazia não só respostas não dadas, mas perguntas que não haviam sido feitas, conforme os registros gravados da conversa. Vou reproduzir apenas o trecho que melhor identifica o foco da doença. É o seguinte:

1) TEXTO GRAVADO E TRANSCRITO DA CONVERSA:
ISTOÉ - Como o sr. vê a tentativa dos governistas de abortar as prévias?
Garotinho - Sem dúvida, é golpe. A prévia foi estabelecida em convenção e regulamentada pela executiva nacional. Todos participaram de tudo, inclusive os governistas. O verdadeiro motivo que os move é a vontade de entregar o partido ao PT.


2) TEXTO PUBLICADO NA REVISTA:

ISTOÉ - Líderes do PMDB intencionam ir à Justiça contra as prévias no partido. O sr. gosta dessa idéia?

Garotinho - (...) É uma tentativa de golpe, sem dúvida. A prévia foi estabelecida em convenção e regulamentada pela Executiva Nacional. Todos participaram de tudo, inclusive os governistas. Não dá para mudar as coisas assim, de uma hora para outra, como se fazia antigamente, num acerto de caciques que os índios têm de cumprir. O verdadeiro motivo que os move é a vontade de entregar o partido ao PT.

Menos mal, cara-pálida, que o Garotinho tenha deixado pra lá a travessura e evitado repetir FHC. Mas, cá pra nós, Marques, não dá para mudar as coisas assim, de uma hora para outra (...) num acerto de caciques que os índios têm de cumprir! (Sei não, mas fui tomado, agora, por uma enorme sensação de dèja vu...)

Pesquisando nos arquivos implacáveis do Google, que já não nos deixa dormir em paz, descobri que este mal insidioso grassou em outra redação, por coincidência dirigida por V. Muito antes do Garotinho, foi o garotão de Mr. Bush no Brasil, o embaixador John Danilovich, que protestou contra os graves sintomas da gripe. Pelo jeito, é pandemia mesmo! O vigilante Observatório da Imprensa publicou, no dia 17 de agosto de 2004, a seguinte matéria:


ISTOÉ DINHEIRO

Embaixada americana contesta entrevista
[do release da embaixada]
IstoÉ Dinheiro montou "entrevista" com embaixador Danilovich
A "entrevista" com o embaixador John Danilovich apresentada pela revista IstoÉ Dinheiro na edição de 11 de agosto, intitulada "10 Perguntas para John Danilovich", foi uma montagem.
O artigo apresenta uma colagem de trechos da palestra do embaixador Danilovich no Instituto Fernando Henrique Cardoso, dia 3 de agosto, além de respostas dadas pelo embaixador a um grupo de jornalistas no mesmo evento - a "entrevista" da IstoÉ Dinheiro não menciona o fato de que o jornalista Marco Damiani fez apenas três das cinco perguntas colocadas durante aquela conversa.


A embaixada enviou à redação da IstoÉ Dinheiro a seguinte carta, que não foi publicada na edição desta semana (18 de agosto):
Brasília, 11 de agosto de 2004
Diretor de Redação, Dinheiro
Fax: 11-3611-6411
dinheiro@zaz.com.br
Gostaria de alertar os leitores sobre o fato de que sua recente "entrevista" com o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, John Danilovich, foi montada. O repórter Marco Damiani, da Istoé Dinheiro, na realidade não fez uma entrevista com o embaixador. Em vez disso, entre cinco perguntas que alguns jornalistas dirigiram ao embaixador durante o intervalo de um seminário, três foram feitas pelo repórter . Várias das "perguntas" incluídas na sua entrevista nunca foram formuladas. O repórter tirou as últimas três respostas, fora de contexto, dos comentários preparados pelo embaixador para o seminário, cujo texto pode ser encontrado na íntegra na homepage da embaixada: (http://brasilia.usembassy.gov).
Esse formato montado de "entrevista" foi desonesto e é um desserviço aos seus leitores.


Obrigado

R. Wesley Carrington, adido de Imprensa

Um atento infectologista perceberia que o ponto em comum entre os dois pacientes, o ex-presidente e o ex-embaixador, é o editor executivo de ISTOÉ Marco Damiani, que ciscou nos dois quintais e deve ter sido contaminado. É a única explicação possível. Esta gripe quase secreta, que não deveria jamais atingir redações saudáveis e imunes ao vírus do esquentamento, não é o único problema da revista. Outro, mais escancarado e visível, atinge o coração do atual projeto editorial da revista: as fotos. Antes expressão da verdade, estágio cru da notícia, a foto nas suas talentosas mãos virou artifício para dourar a realidade e, desta forma atravessada, pregar pequenas peças no leitor incauto.

Boa idéia, mal copiada

Na edição 1895 da ISTOÉ (de 15 de fevereiro de 2006), V. publicou uma matéria de Comportamento, "Na onda das mulheres surfistas", no velho modelito 1 x 1 - uma página com uma bela foto, uma página com um texto leve, ligeiro, rapidinho, no gênero bobinho que V. imagina fazer tanto sucesso. Pois a foto, um belíssimo tubo de onda azul por onde desliza a catarinense Jacqueline Silva, campeã mundial do circuito em 2001, é uma pegadinha, um truque para enganar o leitor.

Alguém desatento pensaria que era um tubo portentoso num santuário havaiano. Alguém mais atento veria, no canto esquerdo inferior da página 48, que era uma reles montagem. Cruzes!, V. adora montagens, Marques! Como a contenção de despesas não recomenda gastar uma passagem ida e volta São Paulo-Havaí, o que lhe pareceu mais inteligente foi recortar o rosto da garota e colar sua carinha bonita no corpo - certamente não tão bonito quanto o original verde-amarelo - de alguma surfista privilegiada do Pacífico. (Espero que a Jacqueline, a surfista americana e o fotógrafo da AP, Pierre Tostee, autor da foto remendada, não nos leiam, senão os advogados terão ainda mais trabalho...) E viva o Santo Photoshop!

Só pra relembrar, aqui vai de novo a foto, aliás muito bonitinha:

No caso da Jacqueline, ainda existe a atenuante do crime confessado, a montagem. E quando ela não é anunciada? Bem, aí é processo na certa, como anunciou o ex-ministro José Dirceu. Na edição 437 (de 1º de fevereiro de 2006), a ISTOÉ Dinheiro, também dirigida por V., conseguiu fazer tudo errado numa única página, a 31. Na matéria "Dirceu sem destino", o ministro easy-rider aparece como o futuro proprietário de uma bela moto Harley Davidson de R$ 90 mil, que já estaria sendo produzida na fábrica de York, EUA. Para coroar o bolo, uma bela foto do Dirceu, todo pimpão, com tênis, jeans, jaqueta e luvas, montado na poderosa V-Road da Harley. Para quem duvida, olha ele aí, gente!

De novo, o velho truque: é a cara do ministro num corpinho que nunca foi dele. E, desta vez, nem há indicação de que tudo é montagem. O Zé Dirceu, que não é nenhum Garotinho, leu a travessura no exterior e mandou o advogado processar a revista pela traquinagem. Ele diz que não comprou, não vai comprar e, pior, nunca pilotou uma moto.

Quando não é a montagem, é a clonagem. É uma rima, mas não é uma solução. Por tudo que tenho ouvido a seu respeito, V. é um obcecado por belas fotos, especialmente fotos da imprensa americana, tipo Time ou Newsweek. Acho uma boa, até porque a imprensa de Tio Sam ainda é a melhor do mundo, apesar do momento vil e covarde que vive, intimidada pela direita, pelos falcões do Pentágono e pelo fundamentalismo religioso do bando de paranóicos que cerca o apalermado W.Bush. Voltemos às fotos: V. junta, reúne, espalha, guarda na gaveta toda e qualquer foto que lhe pareça boa. Acho bom se inspirar em coisas de qualidade. Mas inspirar não é copiar! Assim como a foto da gatinha surfista, V. distribui cópias via fax da foto eleita e pede outra igual, exatamente igual.

Se não é possível a clonagem, pura e simples, vem a montagem, dura e seca. Na capa da edição 1899 da ISTOÉ (de 15 de março de 2006), V. nos brindou com uma capa do nosso astronauta.

Lembra?

Pois é. Parecia uma boa sacada. O rosto sorridente do nosso herói espacial enfiado no seu reluzente capacete prateado, metido num terno com gravata num tom azulado - uniforme esquisito para um tenente-coronel da ativa da FAB, como é o caso do nosso simpático Marcos César Pontes. Mas, na semana passada, um amigo chato, desses que não deixa passar nada, passou diante da prateleira de revistas importadas, no aeroporto de São Paulo, e o que ele viu ali? Uma ISTOÉ importada? Não, uma ISTOÉ clonada. Observe:

É uma edição da revista americana Business 2.0 , que pode ser acessada no sítio www.cnnmoney.com, com uma capa exatamente igual. É um sujeito, sem o sorriso e a simpatia do nosso astronauta, enfiado no mesmo capacete prateado, com um terno escuro e a gravata, aqui, vermelha. Mas, neste caso, o terno não parece inadequado, diante do título da capa: The Entrepreneurs´s Guide to the Galaxy (algo como o "Guia de Empreendedores para a Galáxia"). O tema aqui é o filão de milionários e aventureiros abonados que, um dia, farão turismo espacial. Nada a ver com coronel de salário mixuruca de Força Aérea.

No caso da Businnes, a foto fazia sentido. No caso da ISTOÉ, a foto é um absurdo. O pior é que a ISTOÉ não foi clonada. É o contrário. A edição americana tem a data de capa de 27 de fevereiro de 2006 - duas semanas antes da brasileira. Mais uma grande idéia, mal copiada e mal executada, que brotou da gaveta inesgotável do diretor de ISTOÉ. Que mau exemplo, Marques!
A velha e boa semanal


V. poderia alegar que este é apenas mais um caso de "foto-referência", que hoje virou clichê na redação da revista, junto com a "foto-conceito" e a "foto-atitude". Não tenho a menor idéia do que seja isso, nem os atarantados fotógrafos de sua equipe, mas talvez seja outro belo tema para o Dines abordar no Observatório. Entre algumas das máximas da "ideologia marquesista", explicitada em reuniões com seus editores e repassada a suas equipes, destaco três preciosidades: A saber:

** Jóia 1: "Não gosto de suíte."
Para sorte do jornalismo mundial e da história americana, Mr. Marques não usurpava a cadeira de Ben Bradlee como editor do The Washington Post em 1972. Na noite de 17 de junho, cinco homens invadiram as salas do QG do partido Democrata, na capital americana. Se a dupla Woodward e Bernstein, que assumiu o caso, voltasse dias depois à sala de Mr. Marques pedindo mais espaço para a série que começava a nascer, seriam enxotados: "Não gosto de suíte". E o mundo não conheceria o Caso Watergate, uma bobagem de mais de dois anos que só acabou na noite de 8 de agosto de 1974, com a renúncia do vigarista Nixon.


Na II Guerra Mundial, uma tediosa suíte de cinco intermináveis anos, o gênio Marques teria que escolher um ou outro tema para não cansar seus leitores com a dura rotina do maior conflito bélico da humanidade. O Dia D talvez, Pearl Harbor quem sabe, provavelmente Hiroshima, um ou outro poderiam ter espaço no seu jornal ou revista. Stalingrado? Não, não, é sempre a mesma coisa todo dia, quero novidades. Vladimir Herzog? Vamos dar a missa na Catedral da Sé. E não quero suíte. O Riocentro? Publique o acidente com a bombinha no Puma do DOI-CODI. O resto é suíte. A história que não couber no espaço de uma edição do mestre Marques, bem.....azar da história.

O pior é que a vida, as guerras, os escândalos, os fatos insistem em se estender, prolongar e até repetir, semana após semana, para desespero de nosso intransigente diretor, que deve odiar até a Quebra-Nozes de Tchaikowski. Como o poeta Chico Buarque avisou, o tempo passou na janela e só Marques não viu.

** Jóia 2: "Não quero preto, nem pobre na revista".
É uma visão clean da vida que combina bem com seu estilo aprumado, fashion, de ternos bem cortados e etiqueta de griffe. Mas ficaria bem na Quinta Avenida, em Nova York, não na Lapa de Baixo paulistana. Sua visão estreita e preconceituosa ignora o fato de que o Brasil se estende além dos prédios modernosos, de vidro espelhado, da opulenta Avenida Paulista. Este país varonil de 190 milhões em ação, prontos para vestir verde-amarelo para torcer pelo Brasil-il-il na Copa do Mundo, ainda tem 55 milhões de pobres - gente com renda familiar de meio salário mínimo. É o Brasil que certamente não mostra sua cara na ISTOÉ de Marques.


Pretos e pobres - que coisa mais desagradável! - asseguram ao Brasil o vice-campeonato mundial em concentração de renda, atrás apenas de Serra Leoa. Não fazemos revista para este tipo de gente, até porque, se tivesse algum dinheiro no bolso, certamente iria gastar em comida, não numa edição amena e colorida de ISTOÉ, não é, Marques?

Os leitores apressadinhos da nova ISTOÉ provavelmente não gostariam de perder tempo com as constrangedoras comparações da ONU, mostrando que o mundo gasta US$ 18 bilhões por ano com maquiagem, quando bastariam US$ 19 bilhões para sustentar os 800 milhões de seres humanos - na maioria pretos, seguramente todos pobres - que não têm o que comer. Outros US$ 15 bilhões são desperdiçados com perfumes, US$ 5 bilhões a mais do que o exigido para garantir água num planeta onde 1,1 bilhão de pessoas - todas pobres, muitas pretas - não têm o que beber.

** Jóia 3: "Não gosto de política".
Acho desconcertante que o diretor de uma das mais importantes revistas semanais do país diga tamanha sandice. Goste V. ou não, a Política está aí, desde a Grécia Clássica, para nos apontar os caminhos que o cidadão tem para atender suas necessidades de forma organizada e evoluir como sociedade. Uma revista como ISTOÉ e jornalistas como nós, Marques, devemos sempre pensar e agir, pela via do bom e relevante jornalismo, para que se faça a melhor política e se exclua do meio os maus políticos que a degradam, como ferramenta fundamental da democracia e da liberdade.


V. ainda é muito jovem, Marques, para abdicar desta missão. Brasília, com todos os seus vícios e defeitos, é fundamental para que o país saia do buraco em que está. O Brasil que trate de melhorar Brasília, votando e elegendo em gente melhor. E V., faça sua parte, fazendo uma ISTOÉ boa como antigamente. Nas suas mãos, a velha e boa semanal do Seu Domingo morreu, acabou, já era.

Acabou de nascer a ISTOEra, a ISTOÉ da Era Marques.
Eu, e milhares de leitores, lamentamos.
Saudações, Luiz Cláudio Cunha
[Brasília, 27 de março de 2006]
(*) Jornalista

DIRCEU DIZ QUE PSDB TENTA DESESTABILIZAR LULA





Dirceu diz que o governo Lula errou ao fazer aliança com o PL e disse que o PMDB será o âncora das eleições deste ano

Agliberto Lima/AE
Fotos: Bruno Wincler


Ex-ministro acredita que a nomeação de Mantega para o Ministério da Fazenda encerra a crise política

SÃO PAULO - O ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu culpou na noite desta segunda-feira a disputa política e o "desespero tucano" pela crise que culminou pela queda do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "É uma tentativa de desestabilizar o governo Lula. Quem não tem voto tenta ganhar no tapetão", disse, referindo as pesquisas que apontam Lula na liderança da disputa.

Em palestra na Assembléia Legislativa, Dirceu condenou a quebra de sigilo do caseiro Francenildo Santos Costa, mas disse que a imprensa lançou outros extratos bancários e não foi punida por isso. "A conta do Okamoto, a minha, a do Henrique Meirelles foram devassadas. É crime também. Como podem dizer que abusamos do poder?", disse.

Dirceu insistiu que sua cassação foi um ato político movido pela oposição e que não existe prova contra ele. "Podem me indiciar porque papel aceita tudo, mas não há indícios contra mim. Eu quero ser investigado."

Metas para o segundo mandato

Na palestra, que tinha o tema "O PT e o governo Lula: O que devemos fazer no futuro", Dirceu estabeleceu metas para um eventual segundo mandato de Lula e elegeu os erros que não podem ser cometidos. "O primeiro foi o estilo das alianças. Erramos ao nos unir ao PL e em não termos votado a reforma política", disse, O ex-ministro admitiu que o partido errou quando o quadro mais qualificado do PT saiu da direção do partido para entrar no governo.
Para as eleições desse ano, Dirceu disse ser fundamental uma aliança com o PMDB. Disse também que acredita que Garotinho não sairá como candidato. "A verticalização vai impedí-los de ter candidato. O PMDB é a âncora dessa eleição."

Educação e política externa

No próximo mandato, Dirceu disse que as prioridades são, além da reforma política, aumentar os investimentos na educação e na habitação. "Um País como o Brasil não pode ter analfabetos, é inadmissível", disse, lembrando que no atual mandato o governo lançou o ProUni. "Medida que abriu as portas da universidade à que não tinha condições de estudar."
Na economia, o ex-ministro defendeu todas as medidas e o caminho adotado por Palocci. "Nós fizemos o dever de casa. Estabilizamos a economia, diminuímos a inflação e eliminamos a dolarização da dívida interna".

Outro ponto favorável ao governo, apontado por Dirceu, diz respeito à sua política externa. "O Brasil passou a ser sujeito no cenário internacional, tendo um papel importante", disse o ex-ministro.

Fim da crise ?

José Dirceu acredita que a nomeação de Guido Mantega para o Ministério da Fazenda encerra a crise política do governo. "A partir de agora devemos olhar para frente. O País precisa continuar tendo estabilidade com desenvolvimento".

Para ele, "o importante é ter governabilidade e que o ministro Guido Mantega dê respostas aos problemas do País, principalmente aumentando o investimento, com redução dos juros, reduzindo os custos e avançando na reforma tributária".


Tuesday, March 28, 2006

Peçonha virtual

Artur Virgílio é uma abominação. Um idiota, criado no seio de uma ridícula família burguesa, que se acha aristocrata só porque tem a falta de imaginação de repetir o mesmo nome há quatro gerações.

É um cafajeste metido a refinado, que grita com mulher em público e acha aceitável ameaçar dar uma surra no Presidente da República...

ACM Neto também é um boçalzinho, que nunca precisou trabalhar duro na vida, se elegeu deputado às custas do avô coronel. E que avô, hein? Fraudador de painel de votação do Congresso que, quando se viu prestes a perder o mandato, não honrou as calças que vestia e renunciou. Não vale um traque de José Dirceu. Pois é o netinho deste sujeito asqueroso quem se acha no direito de ameaçar publicamente o Presidente da República do Brasil, eleito com a maior votação da história. Queria ver ser macho pra ameaçar um dos generais ditadores que seu vovô tanto apoiava. Bravateiro, inconseqüente, arrogante, sem um pingo de compostura e decoro para exercer o cargo que exerce.

A louca da Heloísa Helena, que acha que ser de esquerda é fazer esse triste papel de lavadora das privadas da direita, o qual vem exercendo há tempos, também achou bonito ameaçar de pancada o mandatário maior da nação. É claro que não foi levada a sério, pois além de mal poder com um gato morto pelo rabo, sempre teve fama de histérica e mal-amada, que faz da agressividade verbal exibicionista uma espécie de sexualidade alternativa. É uma piada ambulante, até naquele Congresso de bufões.

O Brasil tem hoje a pior bancada na Câmara Federal de todos os tempos.Com raras e honrosas exceções, que só confirmam a regra.

E também, salvo as raras e honrosas exceções confirmadoras, o Brasil tem hoje a pior imprensa que já teve desde que vendidos e golpistas como Carlos Lacerda e David Nasser bateram as botas.

A começar pelas “estrelas” dos noticiários e programas de entrevistas. Arnaldo Jabor é um cineasta fracassado, que cometeu três filmecos pornográficos, metidos a cult. Desistiu, felizmente, e quando pensávamos estar livres de sua falta de talento, eis que o monstro ressurge e resolve torrar nossa paciência de outro jeito: fingindo que está com encosto do Paulo Francis. Paulo Francis era um direitista doente. Mas, pelo menos era ele mesmo. Uma bosta de ele mesmo, vale lembrar. Agora, imagine um pastiche desta bosta? Acertou, é Arnaldo Jabor.

Jô Soares é o filho único de um casal de grã-finos, criado no Copacabana Palace, e que nunca conseguiu superar a idade mental de doze anos. Tanto que não consegue fechar a boca e comer do jeito que um homem de sessenta anos deveria. Com barbas brancas na cara, continua se comportando como o garoto gordo que faz o papel de bobo da classe. Acha que é engraçado, quando está sendo apenas ridículo. Acha que é mais inteligente que todo mundo, quando só é arrogante. Assistiu um programinha mambembe de um entrevistador estadunidense, imitou em tudo, até no cenário, e com isso se sente no direito de humilhar seus entrevistados, seus músicos, sua equipe técnica e até sua platéia. Ou claque, melhor dizendo.Agora, decidiu que seu papel de deformador de opinião é fazer campanha declarada contra um governo que foi democraticamente eleito.

Nas quartas-feiras, reúne no seu picadeiro um grupelho de peruas, todas na menopausa e se achando o máximo por serem debochadamente chamadas de “meninas”.

Cristiane Lobo ri com cara de idiota e concorda com tudo que o Gordo diz. Talvez com medo de perder o empreguinho global e ter de cobrir defunto de periferia na Record. A pobre professora da USP , que deve estar por lá atrás de um mensalinho pra engordar seus honorários, tenta falar, mas, é sempre atropelada por Lúcia Hipólito. Aí sorri amarelo e deixa pra lá, com aquela cara de “tia” que entende a ignorância das criancinhas.

Ana Paula, aquela mistura de loura do Tchan com foca de jornal de bairro, é tão competente que só conseguiu emprego mesmo no falido JB. Diz um monte de besteiras, sacode as bijuterias e faz caras e bocas pra câmera, talvez sonhando com um convite tardio para posar na Playboy.

E tem a Lúcia Hipólito, a pior figura que já apareceu na telinha nos últimos tempos. É feia, é brega, é antipática, é arrogante, é mal educada, interrompe a fala das outras e ainda se acha a última coca-cola gelada do sertão. Parece a bruxa malvada das antigas histórias da Disney. É o estereótipo da perua de família rica que quer se afirmar como “intelectual” pra esnobar as amigas no chá das cinco. Apresenta-se como “cientista política”. Como assim, “cientista”? Alguém já leu algum artigo científico desta senhora? Já discutiu seus livros em algum congresso? Já viu o currículo Lattes dela? Ela realiza suas pesquisas científicas em qual instituição?

O que se sabe é que exerce função de jornalista e pelo que se intitula, sem ter a devida formação na área. Mas, acha que pode ditar regras sobre tudo. Solta batatas imperdoáveis até na boca de um estudante de primeiro período de sociologia. Como a da última quarta-feira, dia dois de novembro, quando disse que não poderíamos ter escolhido Lula para “gerenciar” o Brasil, “pois ele nunca gerenciou nem mesmo um carrinho de pipocas”. Claro que todo mundo que estudou “ciências políticas” sabe o quanto é importante a experiência gerencial de carrinhos de pipocas na carreira de um presidente da república, não é mesmo?

Alguém precisa avisar à “cientista” que o cargo de Presidente da República é representativo e não gerencial. E que o Estado não é uma empresa. Tem relações sociais, econômicas e humanas bem mais complexas que uma padaria ou uma fábrica de automóveis. Não pressupõe a hierarquia existente em uma empresa. Não visa o lucro e não tem dono. Se a gente fosse escolher Presidente, como se escolhe gerente, era melhor fazer concurso público em vez de eleição.

A única das “meninas” que dizia coisa com coisa, a veterana jornalista Teresa Cruivinel, foi posta pra fora do programa, ou saiu de lá correndo para não pagar mais mico naquele festim idiota, que mais parece um fim de tarde na Daslu.

E o que temos na mídia impressa? A revista VEJA. A revista VEJA merece um capítulo à parte, pois já deixou de ser uma publicação jornalística, pra embarcar no gênero ficcional com narrativa de literatura fantástica. Traz em suas páginas seres que só poderiam existir mesmo na ficção fantástica, como o Diogo Mainard.

Eu até acredito em fadas, saci, duendes e fantasmas. Mas, não acredito que alguém como o Diogo Mainard possa existir de verdade.

O pior é que, ao embarcar na literatura de ficção fantástica, a VEJA devia ter, pelo menos, treinado seus repórteres, distribuindo um exemplar de “Os Cavalinhos de Platiplanto”, clássico do gênero, escrito por J.J.Veiga. A boa referência literária faria com que as criaturas, pelo menos, conseguissem imaginar uma historieta melhor do que esta de Fidel mandando ao Brasil dinheiro para financiar a campanha de Lula. E ainda escondido em caixas de uísque. Por que não caixas de charutos, que seria mais verossímil? Ou será que Fidel invadiu o Paraguai desde 2002 e a gente ainda não sabe?

As outras publicações chafurdam num mar de jabaculês, sensacionalismo e ignorância. Nem escrever corretamente em português conseguem mais.

Mas, é essa imprensa sem preparo e totalmente comprometida com as forças conservadoras que forma a opinião da classe média brasileira.

A classe média brasileira que é tonta, idiota e tem péssima formação educacional. Quem chega a fazer faculdade, nunca mais lê um livro, depois que se forma. Quando lê, é auto-ajuda, escrita pelo Lair Ribeiro.

Mesmo assim, essa turma acha que é bem informada às custas de VEJAS, ÉPOCAS, FOLHAS, GLOBOS e se sente elite, adotando as idéias e comportamentos da gentalha da mídia, que forma sua opinião.

Já a elite de verdade é hipócrita, canalha, egoísta e cruel. Tem ódio de Lula, por ser mestiço, nordestino e pobre. Acha um insulto ser governada por ele e se pudesse já o teria tirado do poder na ponta da baioneta, como fez com João Goulart, que nem pobre, nem nordestino era, apenas um moderado socialista.

É uma elite pobre de cultura e formação, composta por quatrocentões decadentes, descendentes de degredados, que se julgam nobres e por emergentes ridículos, que se sentem quatrocentões.

Uma elite ignara, que compra livros como de fossem azulejos, para decorar paredes. E é uma elite burra, que nunca leu Gilberto Freyre nem Adam Smith e não aprendeu que, até para poder continuar a habitar a casa grande, precisa deixar a senzala comer um pouco melhor.

Não, poeta Cazuza, eu não vou pedir "piedade pra essa gente careta e covarde"! "Pelo menos esta noite, não.” Estou mais é querendo que todos eles vão pro diabo que os carregue.

Estou de saco cheio de tanta baixaria, mediocridade, autoritarismo, maucaratismo e violência real e simbólica.

Estou de saco cheio de ver esses cretinos mentindo, enganando e manipulando pra não deixar que o sonho do povo se realize.

Estou de saco cheio de ver a desfaçatez com que tentam convencer o povo de que ele sempre toma a decisão errada e que, por isso, é melhor não decidir mais e entregar o país pra que eles, os iluminados, governem.

Estou de saco cheio de ver esse mesmo filme se repetindo nos últimos quarenta anos, desde que me entendo por gente: a elite canalha governando, mesmo que à força. A classe média pusilânime aplaudindo, e se sentindo representada, como se tivesse algum poder. E o povo, sofrido e conformado, “levando pedras como penitente” e sonhando com um Messias, que o virá salvar.

Estou de saco cheio de ver o país dar um passo adiante e dez para trás, por que o progresso democrático contraria os interesses de meia dúzia de poderosos, cuja ganância é maior que o tempo que eles terão de vida para aproveitar o produto de sua perversidade. Estou de saco cheio de ver o único Governo em muitos anos que nos livrou do FMI, voltou a financiar moradias, criou um programa de segurança alimentar para atender os famintos, assumiu a liderança da América Latina e impôs respeito no mundo todo, ser execrado diariamente nos jornais, como se tivesse inventado a corrupção, a violência e todos os problemas que o país arrasta há quinhentos anos.

Estou de saco cheio de saber que isso é preconceito, sim. É ódio de classe, sim. É desejo de manter privilégios inaceitáveis, sim. Pois quando o sociólogo da Sorbone quebrou o país três vezes, liquidou o patrimônio do país a preço de banana, sucateou o parque industrial do país com uma política monetária absurda, multiplicou a dívida externa e comprou votos pela bagatela de duzentos mil para se reeleger, nunca mereceu da mídia o linchamento diário que vêm recebendo o Governo Lula e o PT. Nunca foi desrespeitado em plenário pela oposição da forma como o presidente Lula tem sido desrespeitado. Nunca foi ameaçado de pancada por um canalha, uma histérica e um herdeirozinho de quinta categoria.

Estou de saco cheio de ver tanta injustiça, tanta mentira tanta cara-de-pau, tanta irresponsabilidade com o futuro do país, no esforço de criar uma crise que eles sabem que é hipócrita, falsa e eleitoreira, pois trata como novidade práticas seculares.

E tudo isso em um momento que poderíamos estar aproveitando para crescer, promover o bem-estar do povo, afirmar nossa grandeza como nação pacífica e progressista diante do mundo.

Eles não se importam em jogar na lata do lixo da história o futuro das nossas crianças, desde que´possam trazer de volta ao poder o partido da compra de votos, da privataria, da dengue, da quebradeira e do apagão.

Eles não pensam que, se interrompermos os projetos sociais que hoje assistem a mais de trinta milhões de brasileiros, estaremos fomentando ainda mais os bolsões de miséria, donde sairão os bandidos que matarão, seqüestrarão e roubarão a paz de seus filhos e netos.

Essa gente dorme, meu Deus? Essa gente coloca a cabeça no travesseiro à noite e sonha com os anjos, sem ouvir a voz do Ministro Gil cantando insistentemente em seus ouvidos “gente estúpida, gente hipócrita” ?

Se você está acostumado a ler meus textos, deve estar espantado e até indignado com a virulência e agressividade deste aqui. Deve estar também de saco cheio de me ver aqui a xingar e blasfemar por tantas linhas. Pois saiba que é exatamente assim que estou me sentindo, depois de passar seis meses sendo submetida a um bombardeio diário de baixarias e canalhices golpistas daqueles que querem única e exclusivamente o poder.

Esse texto é um desabafo, uma vingança, um grito transbordante de quem está de saco cheio de agir corretamente, de respeitar os outros, de seguir as leis, a Ética, os bons modos, o politicamente correto e, olhando em volta, ver o triunfo dos canalhas sobre o homem de bem, do medo sobre a esperança, da covardia sobre a vontade de mudar pra melhor.

É um gesto de legítima defesa, destes que a campanha do “NÃO” tanto nos convenceu ser um direito.

O texto está ofensivo, grosseiro, chocante? Que bom! Era isso mesmo que eu queria.Que toda a bile que derramei aqui possa chegar até essa gente nefasta e provocar neles raiva, amargor, ódio, ressentimento.

Palavras não matam, mas, ferem. Ficam ecoando na cabeça e infernizando a alma por muito tempo.

Tomara que todos eles leiam. E tenham um mau dia. Uma péssima semana. E um mês pior ainda.
Veruska