Sunday, September 24, 2006

Nota de esclarecimento

Diante de recorrentes insinuações caluniosas da mídia que, em vez de investigar o dossiê Vedoin-Serra, gasta tinta e papel para tapar o sol com a peneira e buscar subterfúgios, desejo esclarecer de uma vez por todas que não tive participação nem acesso a esses documentos comprometedores da administração tucana no Ministério da Saúde.
Ademais, é preciso dizer à opinião pública que:
a) A análise de informações é crucial em qualquer atividade, seja na economia, seja na política, seja na carreira profissional.
b) No fundo é isso também que faz a imprensa todos os dias, não sem cometer graves injustiças, como ficou provado no caso da Escola Base. Esse foi apenas um exemplo-símbolo de tropeço e colisão entre o exercício do jornalismo e o direito da opinião pública à informação isenta. Mas não foi o único. Exemplos abundantes de manipulação da opinião pública podem ser encontrados nesta campanha eleitoral, como fica claro a cada levantamento dos diferentes Observatórios de Mídia em atuação no país.
c) Pegue-se qualquer um deles: a avalanche de enfoque negativo contra o governo e o candidato Lula deveria dispensar-nos da dissimulação, dos que ocultam preferências partidária e, não raro, ódio de classe e preconceito social sob o biombo roto da equidistância e do respeito aos desmoralizados manuais de redação.
d) Não se pode reprovar a opção política de uma empresa de jornalismo, do seu dono e de seus editores e pauteiros. O que a democracia requer não é censura às opções partidárias e ideológicas, mas sim a transparência diante da opinião pública. É devastador para a democracia o que se faz hoje, quando a óbvia opção partidária se oferece ao público travestida de verdade.
e) Melhor papel fariam nossos diários se deixassem claro suas preferências nos editoriais e usassem o restante do papel para a reportagem isenta, deixando ao leitor a prerrogativa de julgar. Como tal divisor republicano não se estabelece, o que temos é a invasão despudorada do editorial no corpo das notícias, na distribuição dos espaço e nas manchetes, de indisfarçável tendenciosidade. Menos cinismo seria um belo serviço à liberdade da parte de quem tanto cobra o equivalente na vida política nacional.
f) É nesse quadro espinhoso que partidos e campanhas fazem análise de todas as informações disponíveis -- aquelas veiculadas através da mídia e as que circulam nos meios políticos, antes ou depois de terem sido processadas pelos jornais.g) Vejamos o caso do dossiê Vedoin-Serra, por exemplo. Os fragmentos e investigações jornalísticas divulgados até agora -- escassamente pela nossa mídia isenta -- apontam sinais robustos de associação entre a máfia do sanguessuga e a administração Serra/Barjas Negri no Ministério da Saúde, durante o governo FHC.
g) Um dado resume todos os demais: 70% das transações efetuadas pela Planan, empresa da família Vedoin, aconteceram sob o manto Serra/Barjas. É forçoso perguntar: será que os Vedoin eram pios devotos de madre Teresa de Calcutá quando realizaram 70% de seus negócios e só depois, na cota dos restantes 30%, trocaram a batina pelo terno de Al Capone? Menos cinismo, senhores donos da mídia, por favor.
h) Dito isso desejo esclarecer de uma vez por todas:
I) Torço para que a nossa mídia isenta tenha uma recaída republicana e deixe de esconder o que deveria investigar sobre esse episódio. Que o faça como é a sua obrigação, de forma transparente e reservando-lhe o mesmo espaço e ênfase jornalística que tem dedicado quando se trata de avaliar o PT. Faça-o sem tergiversações. Sem buscar em terceiros o bode expiatório para dissimular o vazio criado pelo abandono dos princípios da profissão.
II) Só tomei conhecimento das informações do dossiê Serra/Vedoin em conta-gotas, graças a "isenta" cobertura eleitoral da mídia. Inicialmente, tais informações circularam apenas nos blogs -- por sinal, há mais de um mês, quando algumas fotos do ministro Serra, em festiva confraternização com a turma sanguessuaga, no Mato Grosso, foram postadas no blog do jornalista Fernando Rodrigues. Depois disso, só retomei contato com o assunto ao explodir o escândalo do dossiê Serra/Vedoin.
III) Injustamente afastado da vida política brasileira, por conta de acusações inverídicas -- que inclusive motivaram a cassação do meu acusador por quebra do decoro parlamentar -- encontro-me fora da ação partidária e eleitoral.
IV) Não participo da atual campanha, exceto como analista e cidadão. Portanto, não poderia jamais ter ingerência em qualquer negociação ou avaliação do referido dossiê Serra/Vedoin.
V) Minha participação neste pleito resume-se a defender e torcer pela reeleição do presidente Lula, para que o Brasil possa dar continuidade ao processo de desenvolvimento soberano iniciado nos últimos anos.
VI) O governo Lula tirou o Brasil do círculo de ferro de endividamento e estagnação que nos foi legado por oito anos da gestão Fernando Henrique Cardoso. Nesse período, o tucanato vendeu o ativo nacional (as estatais), explodiu o passivo interno do setor público e radicalizou a dependência externa, colocando o país sob o cabresto do FMI. Em bom português: quebraram a economia, deixando uma herança ruinosa para o presidente Lula que, pacientemente, saneou a máquina e devolveu o país ao trilho de crescimento com maior justiça social.
VII) Jamais tomaria qualquer iniciativa que pudesse pôr em risco a continuidade desse processo de regeneração econômica e social do país.
VIII) Não participei de decisões ou ações relativas ao dossiê Serra/Vedoin. Considero-o, por sinal, absolutamente dispensável para a vitória de Lula. Como brasileiro, todavia, creio ser impreterível que a Polícia Federal e a mídia, sempre ciosa do interesse público, esclareçam à sociedade as graves informações já veiculadas. O pouco que já se noticiou torna evidente o compadrio de negócios escusos entre as duplas Vedoin/Abel Pereira e Serra/Barjas Negri. Como leitor, aguardo as reportagens isentas. Como cidadão, cobro a investigação total.
enviada por Zé Dirceu

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