Serra ou Alckmin?
Jasson de Oliveira Andrade
A pesquisa Sensus, dando a vitória de Lula sobre Serra, numa simulação de segundo turno, com uma diferença de 10 pontos (no Datafolha a diferença é de 5 pontos), estourou como bomba nas hostes tucanas. A alegria anterior está desfeita. Não tinham pressa na escolha de seu candidato, embora a briga entre Serra e Alckmin fosse grande. Agora eles têm urgência em definir quem será o candidato, mas a disputa ainda continua acirrada. No entanto, o dilema entre qual deles poderá vencer o presidente é uma realidade. Um jornal guaçuano, em editorial, constatou: “Os tucanos de alta plumagem tentarão chegar a um consenso entre Serra e Alckmin. A realidade é que ninguém, nem mesmo o PSDB, esperava que Lula aparecesse crescendo nas pesquisas. A eleição era encarada como um passeio, independentemente de quem fosse o candidato. Mais uma vez a política mostrou não ser uma ciência exata”. O consenso está difícil, diz Josias de Souza, no seu Blog: “A bruxa baixou no ninho tucano. À medida que avançam as articulações internas do PSDB para definir o seu candidato à presidência da República, vai ficando claro que o tucanato tem um estilo peculiar de perseguir o consenso. Quanto mais conversam, menos se entendem”.
Serra e Alckmin, em público, parecem bons amigos. Nos bastidores, um procura derrubar o outro. Os serristas se queixam: os defeitos de Alckmin – “falta de visão nacional, lentidão administrativa” – passam praticamente em branco, porque Alckmin não recebe críticas. Ao contrário, em São Paulo conta com uma avaliação estupenda, dizem eles, informa Dora Kramer, no Estadão. Segundo ela, os serristas alegam que o mito do bom administrador é isso, um mito. Atrasou obras – do metrô e do Rodoanel -, só fez continuar os planos concebidos pelo falecido governador Mário Covas e hoje tem problemas para gastar R$ 5 bilhões que tem em caixa. Já os alckmistas criticam Serra. A mesma jornalista, em outro artigo, afirma que eles procuram derrubar o prefeito de São Paulo, criticando a sua possível renúncia ao cargo. Segundo os alckmistas, “na eleição da ética o prefeito irritará o eleitorado e dará armas ao inimigo se faltar com a palavra e for exposto por sua “mentira” (sim, a expressão usada é esta mesma, crua e direta), acrescenta Dora Kramer. A jornalista tem razão. Os deputados ligados ao governador Alckmin, seja federal ou estadual, batem nessa mesma tecla. A deputado federal Zulaiê Cobra (PSDB-SP), declarou à Carta Capital: “Serra quer muito ser candidato, mas terá grande dificuldade em sair da prefeitura”. Na reportagem de um jornal guaçuano, “Célia [Leão] quer Alckmin para presidente”, a deputada estadual tucana declarou: “Ela [a candidatura de Alckmin] é mais natural, porque o Alckmin já concluiu sua missão de governar o Estado. O Serra assumiu a prefeitura de uma das maiores cidades do mundo há pouco mais de ano e os moradores de São Paulo votaram nele para administrar o município. Seria prematuro deixar a prefeitura agora”. Sobre o assunto, a revista Época, de 13/2/2006, traz essa notícia: “Tucanos [alckimistas] e petistas recuperaram um vídeo de pouco mais de dois minutos, mas com prolongado efeito constrangedor sobre José Serra. Nele, respondendo a pergunta de Boris Casoy durante debate da eleição paulistana de 2004, Serra se compromete a cumprir os quatro anos de mandato e pediu que não votem mais nele caso renuncie antes da hora”. A revista transcreve trechos do debate: SERRA: “Eu assumo este compromisso [de ficar quatro anos], embora adversários gostem de dizer que eu vou sair para me candidatar a presidente da República. Não”. CASOY: “Se não o fizer, pede ao eleitor que não vote no senhor?”. SERRA: “Está assumido o compromisso nos termos que você disse”. Pesquisas dizem que o eleitor não se importa que o prefeito saia para ser candidato à presidência. Assisti essa parte do debate (ele me foi enviado por email). A impressão que tenho: responder a uma pergunta é uma coisa, ver o debate é outra. Caso o debate seja apresentado na propaganda eleitoral, poderá ser desastroso para Serra. É o que penso. Em Mogi Guaçu tivemos um caso parecido! Para piorar, deu na pesquisa do Datafolha: “Em SP, 50% não querem Serra fora da Prefeitura”.
Os cardeais tucanos (Fernando Henrique Cardoso, senador Tasso Jereissati, presidente do PSDB, e o governador Aécio Neves) se reuniram com José Serra, no SOFISTICADO, como o designa o Estadão, restaurante Massimo, deixando de lado Alckmin. Depois dessa reunião, o Estadão deu essa manchete: “Serra diz que aceita [ser candidato], se for unanimidade no PSDB”. Descobertos, alguns dos cardeais tucanos procuraram se justificar. Segundo a Folha, Serra disse que na reunião “foi falado de eleição presidencial , mas o assunto não era o principal tema da noite”. Adiante informa o jornal: “Antes de deixar o restaurante, FHC disse que era um jantar para comemoração da eleição do novo líder da bancada do PSDB. [serrista]. Como o eleito, Jutahy Magalhães (BA), não estava justificou: “O amor é tanto que a gente comemora até na ausência dele”. Sem comentários! No Estadão, o mesmo Fernando Henrique se justificou: “Ele [Alckmin] foi convidado, claro. Mas não veio porque tinha de acordar cedo”. No mesmo jornal: “Ontem [17/2], o governador informou que não foi convidado, desmentindo Fernando Henrique”. Jander Ramon, do Estadão, na reportagem “Prefeito nega problemas entre ele e o governador”, afirma: “Serra garantiu que os dois [ele e Alckmin] mantêm conversas normais, em tom amigável. O prefeito disse que de manhã não compareceu no evento na USP da zona leste, organizado pelo governo estadual, por não se sentir bem fisicamente.” Acredite quem quiser! O prefeito ainda tentou esclarecer a reunião-jantar: “O governador não foi convidado porque não foi uma coisa planejada” [FHC afirmou que Alckmin foi convidado, mas não compareceu porque tinha que acordar cedo]. Esta declaração confirma que o encontro foi secreto!
A reunião ou “A Ceia dos Cardeais”, como a definiu a Folha em Editorial, revoltou os tucanos que se consideram “excluídos”. É o caso do governador de Goiás, Marconi Perillo, que, em entrevista à Folha, desabafou: “O PSDB precisa dar uma demonstração de democracia. Sou o mais antigo governador do PSDB. Não admito que decidam por mim. Esse modelo encheu o saco de todo o partido”.
Quem será o candidato? Por essa reunião dos cardeais tucanos, realizada em 17 de fevereiro, ficou claro que o escolhido será o prefeito José Serra, mas até março (qual a data?) a farsa de quem vai ser o candidato continuará. Qual será a reação de Alckmin depois da Ceia dos Cardeais? Apoiará Serra caso ele seja, como parece, o escolhido? Vamos esperar.
JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista em Mogi Guaçu
Jasson de Oliveira Andrade
A pesquisa Sensus, dando a vitória de Lula sobre Serra, numa simulação de segundo turno, com uma diferença de 10 pontos (no Datafolha a diferença é de 5 pontos), estourou como bomba nas hostes tucanas. A alegria anterior está desfeita. Não tinham pressa na escolha de seu candidato, embora a briga entre Serra e Alckmin fosse grande. Agora eles têm urgência em definir quem será o candidato, mas a disputa ainda continua acirrada. No entanto, o dilema entre qual deles poderá vencer o presidente é uma realidade. Um jornal guaçuano, em editorial, constatou: “Os tucanos de alta plumagem tentarão chegar a um consenso entre Serra e Alckmin. A realidade é que ninguém, nem mesmo o PSDB, esperava que Lula aparecesse crescendo nas pesquisas. A eleição era encarada como um passeio, independentemente de quem fosse o candidato. Mais uma vez a política mostrou não ser uma ciência exata”. O consenso está difícil, diz Josias de Souza, no seu Blog: “A bruxa baixou no ninho tucano. À medida que avançam as articulações internas do PSDB para definir o seu candidato à presidência da República, vai ficando claro que o tucanato tem um estilo peculiar de perseguir o consenso. Quanto mais conversam, menos se entendem”.
Serra e Alckmin, em público, parecem bons amigos. Nos bastidores, um procura derrubar o outro. Os serristas se queixam: os defeitos de Alckmin – “falta de visão nacional, lentidão administrativa” – passam praticamente em branco, porque Alckmin não recebe críticas. Ao contrário, em São Paulo conta com uma avaliação estupenda, dizem eles, informa Dora Kramer, no Estadão. Segundo ela, os serristas alegam que o mito do bom administrador é isso, um mito. Atrasou obras – do metrô e do Rodoanel -, só fez continuar os planos concebidos pelo falecido governador Mário Covas e hoje tem problemas para gastar R$ 5 bilhões que tem em caixa. Já os alckmistas criticam Serra. A mesma jornalista, em outro artigo, afirma que eles procuram derrubar o prefeito de São Paulo, criticando a sua possível renúncia ao cargo. Segundo os alckmistas, “na eleição da ética o prefeito irritará o eleitorado e dará armas ao inimigo se faltar com a palavra e for exposto por sua “mentira” (sim, a expressão usada é esta mesma, crua e direta), acrescenta Dora Kramer. A jornalista tem razão. Os deputados ligados ao governador Alckmin, seja federal ou estadual, batem nessa mesma tecla. A deputado federal Zulaiê Cobra (PSDB-SP), declarou à Carta Capital: “Serra quer muito ser candidato, mas terá grande dificuldade em sair da prefeitura”. Na reportagem de um jornal guaçuano, “Célia [Leão] quer Alckmin para presidente”, a deputada estadual tucana declarou: “Ela [a candidatura de Alckmin] é mais natural, porque o Alckmin já concluiu sua missão de governar o Estado. O Serra assumiu a prefeitura de uma das maiores cidades do mundo há pouco mais de ano e os moradores de São Paulo votaram nele para administrar o município. Seria prematuro deixar a prefeitura agora”. Sobre o assunto, a revista Época, de 13/2/2006, traz essa notícia: “Tucanos [alckimistas] e petistas recuperaram um vídeo de pouco mais de dois minutos, mas com prolongado efeito constrangedor sobre José Serra. Nele, respondendo a pergunta de Boris Casoy durante debate da eleição paulistana de 2004, Serra se compromete a cumprir os quatro anos de mandato e pediu que não votem mais nele caso renuncie antes da hora”. A revista transcreve trechos do debate: SERRA: “Eu assumo este compromisso [de ficar quatro anos], embora adversários gostem de dizer que eu vou sair para me candidatar a presidente da República. Não”. CASOY: “Se não o fizer, pede ao eleitor que não vote no senhor?”. SERRA: “Está assumido o compromisso nos termos que você disse”. Pesquisas dizem que o eleitor não se importa que o prefeito saia para ser candidato à presidência. Assisti essa parte do debate (ele me foi enviado por email). A impressão que tenho: responder a uma pergunta é uma coisa, ver o debate é outra. Caso o debate seja apresentado na propaganda eleitoral, poderá ser desastroso para Serra. É o que penso. Em Mogi Guaçu tivemos um caso parecido! Para piorar, deu na pesquisa do Datafolha: “Em SP, 50% não querem Serra fora da Prefeitura”.
Os cardeais tucanos (Fernando Henrique Cardoso, senador Tasso Jereissati, presidente do PSDB, e o governador Aécio Neves) se reuniram com José Serra, no SOFISTICADO, como o designa o Estadão, restaurante Massimo, deixando de lado Alckmin. Depois dessa reunião, o Estadão deu essa manchete: “Serra diz que aceita [ser candidato], se for unanimidade no PSDB”. Descobertos, alguns dos cardeais tucanos procuraram se justificar. Segundo a Folha, Serra disse que na reunião “foi falado de eleição presidencial , mas o assunto não era o principal tema da noite”. Adiante informa o jornal: “Antes de deixar o restaurante, FHC disse que era um jantar para comemoração da eleição do novo líder da bancada do PSDB. [serrista]. Como o eleito, Jutahy Magalhães (BA), não estava justificou: “O amor é tanto que a gente comemora até na ausência dele”. Sem comentários! No Estadão, o mesmo Fernando Henrique se justificou: “Ele [Alckmin] foi convidado, claro. Mas não veio porque tinha de acordar cedo”. No mesmo jornal: “Ontem [17/2], o governador informou que não foi convidado, desmentindo Fernando Henrique”. Jander Ramon, do Estadão, na reportagem “Prefeito nega problemas entre ele e o governador”, afirma: “Serra garantiu que os dois [ele e Alckmin] mantêm conversas normais, em tom amigável. O prefeito disse que de manhã não compareceu no evento na USP da zona leste, organizado pelo governo estadual, por não se sentir bem fisicamente.” Acredite quem quiser! O prefeito ainda tentou esclarecer a reunião-jantar: “O governador não foi convidado porque não foi uma coisa planejada” [FHC afirmou que Alckmin foi convidado, mas não compareceu porque tinha que acordar cedo]. Esta declaração confirma que o encontro foi secreto!
A reunião ou “A Ceia dos Cardeais”, como a definiu a Folha em Editorial, revoltou os tucanos que se consideram “excluídos”. É o caso do governador de Goiás, Marconi Perillo, que, em entrevista à Folha, desabafou: “O PSDB precisa dar uma demonstração de democracia. Sou o mais antigo governador do PSDB. Não admito que decidam por mim. Esse modelo encheu o saco de todo o partido”.
Quem será o candidato? Por essa reunião dos cardeais tucanos, realizada em 17 de fevereiro, ficou claro que o escolhido será o prefeito José Serra, mas até março (qual a data?) a farsa de quem vai ser o candidato continuará. Qual será a reação de Alckmin depois da Ceia dos Cardeais? Apoiará Serra caso ele seja, como parece, o escolhido? Vamos esperar.
JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista em Mogi Guaçu
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