CPI das Privatizações
Jasson de Oliveira Andrade
Na opinião de Elio Gaspari, a criação da CPI da Privataria é a
primeira boa notícia de 2006. Segundo ele: "Parece coisa do passado, mas é
uma oportunidade para pensar no futuro. Num ano eleitoral permitirá a
observação do comportamento do tucanato diante do exame da roupa suja que
deixou para trás. Se não for ABAFADA (destaque meu), investigará as
privatizações ocorridas entre 1990 e 2002". O jornalista afirma ainda:
"Grampos telefônicos, editais self-service, consórcios incestuosos e
contratos de gaveta deram componentes escandalosos ao processo. O apagão de
2001 [governo FHC] e as tarifas lunares IMPOSTAS (destaque meu) por
concessionários retrógrados foram as duas principais seqüelas dessa festa".
Em 20/11/1999, no extinto Jornal do Guaçu, escrevi um artigo, "O
Brasil privatizado", no qual comentava o livro de Aloysio Biomdi, que morria
8 meses depois dele escrito, a 21/7/2000. Grande perda para o Brasil!
A seguir se vai ler o que escrevi naquela época e que é bem
atual, caso funcione a CPI das privatizações.
"O economista Aloysio Biondi escreveu um pequeno grande livro,
focalizando as privatizações no Brasil. Por esse livro, "O Brasil
Privatizado", podemos constatar que existem privatização e "privatização". A
respeito da primeira, ensina Biondi: "A febre da privatização e o impulso ao
chamado neoliberalismo teve seu ponto de partida na Inglaterra, com a
primeira-ministra Margaret Thatcher. Mas mesmo a "dama de ferro" fez tudo
diferente do governo Fernando Henrique Cardoso: a privatização inglesa não
representou a doação de empresas estatais, a preços baixos, a poucos grupos
empresariais [como aconteceu no Brasil]. Ao contrário: seu objetivo foi
exatamente a "pulverização" das ações, isto é, transformar o maior número
possível de cidadãos ingleses em "donos" de ações, acionistas das empresas
privatizadas".
Já a "privatização" à brasileira (Collor e FHC) é diferente. Ao
invés de democratizá-la, concentra a venda a poucos privilegiados. Além
disso, existiram facilitações, as quais, segundo Biondi, transformaram-na em
um "negócio da China". Praticamente, a "privatização" foi uma doação.
E os benefícios que as "privatizações" trouxeram ao Brasil?
Segundo Biondi, o governo dizia que o dinheiro arrecadado com a venda
serviria para reduzir a dívida interna (do governo federal e dos estados). O
economista afirmou que aconteceu o contrário: "o governo "engoliu" (assumiu)
dívidas de todos os tipos das estatais vendidas, isto é, a privatização
acabou por aumentar a dívida interna". Disse ainda Biondi: "as empresas
multinacionais ou brasileiras que "compraram" as estatais não usaram capital
próprio, dinheiro delas mesmas, mas, em vez disso, tomaram empréstimos lá
fora para fechar os negócios. Assim, aumentaram a dívida externa do Brasil.
(...) Em resumo: as privatizações agravaram o "rombo" externo e o "rombo'
interno. A política de crédito do BNDES (aos "compradores") agravou a
recessão (e, consequentemente, o desemprego)".
Um fato que endossa as críticas de Aloysio Biondi são as
declarações do empresário Antonio Ermírio de Moraes ao jornalista Antonio
Carlos Seidl (Folha, 3/11/1999). Ao comentar a decisão do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) de financiar grupos
estrangeiros no leilão (privatização) da energética paulista Tietê (CESP),
ele disse: "Para o capital de fora é até vergonhoso [na minha opinião
vergonhoso foi FHC permitir isso]. Que tragam o seu dinheiro para cá. Nós
somos pobres e eles são milionários. Por que precisam da gente? [gente aí é
FHC]. É UM ABSURDO (destaque meu). O ponto básico é esse: tragam o dinheiro
para cá, mas não chupem os cofres daqui, que já são tão limitados".
Eis aí o retrato do "Brasil privatizado". Pelo menos Collor
(Fernando I) e FHC (Fernando II) poderiam ter imitado Margaret Thatcher!"
Voltando a Elio Gaspari. No seu artigo "Enfim, chegou a CPI da
Privataria' (Folha, 18/1/2006), ele faz essa gravíssima denuncia: "O exame
da privataria pode ter um alcance superior à simples curiosidade fofoqueira
em cima dos grandes patrimônios amealhados no período. (Fofoca: é provável
que as privatizações tenham produzido as mais rápidas fortunas da história
nacional. Nunca tanta gente ganhou tanto dinheiro em tão pouco tempo, sem
produzir um só prego)". Essa revelação de Elio Gaspari não me provocou
apenas ENJÔO, mas INDIGNAÇÃO.
Os tucanos não poderão contar com o que seria seu grande trunfo:
a falta de memória do eleitor. Jornalista como Elio Gaspari e outros, além
dos petistas estão aí para refrescar a memória do eleitor. Aliás, foi o que
fiz em 2002 em carta à revista CartaCapital. Na época, relembrei: " Como
ministro do Planejamento, sua gestão [de José Serra] foi desastrosa: não
evitou 11 milhões de desempregados e também o famigerado "apagão". Na
campanha, procura esconder que foi ministro do Planejamento. Um
"esquecimento", no mínimo, suspeito." Agora, em 2006, ele está bem cotado
para ser presidente. Devemos refrescar a memória dos eleitores. Se quiserem
elegê-lo, que o façam conhecendo-o!
As privatizações foram uma vergonha (Serra como ministro do
Planejamento também não foi culpado?). Vamos ver se teremos mesmo a CPI das
privatizações. Ou ela será abafada?
JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista em Mogi Guaçu
Jasson de Oliveira Andrade
Na opinião de Elio Gaspari, a criação da CPI da Privataria é a
primeira boa notícia de 2006. Segundo ele: "Parece coisa do passado, mas é
uma oportunidade para pensar no futuro. Num ano eleitoral permitirá a
observação do comportamento do tucanato diante do exame da roupa suja que
deixou para trás. Se não for ABAFADA (destaque meu), investigará as
privatizações ocorridas entre 1990 e 2002". O jornalista afirma ainda:
"Grampos telefônicos, editais self-service, consórcios incestuosos e
contratos de gaveta deram componentes escandalosos ao processo. O apagão de
2001 [governo FHC] e as tarifas lunares IMPOSTAS (destaque meu) por
concessionários retrógrados foram as duas principais seqüelas dessa festa".
Em 20/11/1999, no extinto Jornal do Guaçu, escrevi um artigo, "O
Brasil privatizado", no qual comentava o livro de Aloysio Biomdi, que morria
8 meses depois dele escrito, a 21/7/2000. Grande perda para o Brasil!
A seguir se vai ler o que escrevi naquela época e que é bem
atual, caso funcione a CPI das privatizações.
"O economista Aloysio Biondi escreveu um pequeno grande livro,
focalizando as privatizações no Brasil. Por esse livro, "O Brasil
Privatizado", podemos constatar que existem privatização e "privatização". A
respeito da primeira, ensina Biondi: "A febre da privatização e o impulso ao
chamado neoliberalismo teve seu ponto de partida na Inglaterra, com a
primeira-ministra Margaret Thatcher. Mas mesmo a "dama de ferro" fez tudo
diferente do governo Fernando Henrique Cardoso: a privatização inglesa não
representou a doação de empresas estatais, a preços baixos, a poucos grupos
empresariais [como aconteceu no Brasil]. Ao contrário: seu objetivo foi
exatamente a "pulverização" das ações, isto é, transformar o maior número
possível de cidadãos ingleses em "donos" de ações, acionistas das empresas
privatizadas".
Já a "privatização" à brasileira (Collor e FHC) é diferente. Ao
invés de democratizá-la, concentra a venda a poucos privilegiados. Além
disso, existiram facilitações, as quais, segundo Biondi, transformaram-na em
um "negócio da China". Praticamente, a "privatização" foi uma doação.
E os benefícios que as "privatizações" trouxeram ao Brasil?
Segundo Biondi, o governo dizia que o dinheiro arrecadado com a venda
serviria para reduzir a dívida interna (do governo federal e dos estados). O
economista afirmou que aconteceu o contrário: "o governo "engoliu" (assumiu)
dívidas de todos os tipos das estatais vendidas, isto é, a privatização
acabou por aumentar a dívida interna". Disse ainda Biondi: "as empresas
multinacionais ou brasileiras que "compraram" as estatais não usaram capital
próprio, dinheiro delas mesmas, mas, em vez disso, tomaram empréstimos lá
fora para fechar os negócios. Assim, aumentaram a dívida externa do Brasil.
(...) Em resumo: as privatizações agravaram o "rombo" externo e o "rombo'
interno. A política de crédito do BNDES (aos "compradores") agravou a
recessão (e, consequentemente, o desemprego)".
Um fato que endossa as críticas de Aloysio Biondi são as
declarações do empresário Antonio Ermírio de Moraes ao jornalista Antonio
Carlos Seidl (Folha, 3/11/1999). Ao comentar a decisão do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) de financiar grupos
estrangeiros no leilão (privatização) da energética paulista Tietê (CESP),
ele disse: "Para o capital de fora é até vergonhoso [na minha opinião
vergonhoso foi FHC permitir isso]. Que tragam o seu dinheiro para cá. Nós
somos pobres e eles são milionários. Por que precisam da gente? [gente aí é
FHC]. É UM ABSURDO (destaque meu). O ponto básico é esse: tragam o dinheiro
para cá, mas não chupem os cofres daqui, que já são tão limitados".
Eis aí o retrato do "Brasil privatizado". Pelo menos Collor
(Fernando I) e FHC (Fernando II) poderiam ter imitado Margaret Thatcher!"
Voltando a Elio Gaspari. No seu artigo "Enfim, chegou a CPI da
Privataria' (Folha, 18/1/2006), ele faz essa gravíssima denuncia: "O exame
da privataria pode ter um alcance superior à simples curiosidade fofoqueira
em cima dos grandes patrimônios amealhados no período. (Fofoca: é provável
que as privatizações tenham produzido as mais rápidas fortunas da história
nacional. Nunca tanta gente ganhou tanto dinheiro em tão pouco tempo, sem
produzir um só prego)". Essa revelação de Elio Gaspari não me provocou
apenas ENJÔO, mas INDIGNAÇÃO.
Os tucanos não poderão contar com o que seria seu grande trunfo:
a falta de memória do eleitor. Jornalista como Elio Gaspari e outros, além
dos petistas estão aí para refrescar a memória do eleitor. Aliás, foi o que
fiz em 2002 em carta à revista CartaCapital. Na época, relembrei: " Como
ministro do Planejamento, sua gestão [de José Serra] foi desastrosa: não
evitou 11 milhões de desempregados e também o famigerado "apagão". Na
campanha, procura esconder que foi ministro do Planejamento. Um
"esquecimento", no mínimo, suspeito." Agora, em 2006, ele está bem cotado
para ser presidente. Devemos refrescar a memória dos eleitores. Se quiserem
elegê-lo, que o façam conhecendo-o!
As privatizações foram uma vergonha (Serra como ministro do
Planejamento também não foi culpado?). Vamos ver se teremos mesmo a CPI das
privatizações. Ou ela será abafada?
JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista em Mogi Guaçu
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