Saturday, July 22, 2006

Onde vamos parar?



José Dirceu
Ex-ministro-chefe da Casa Civil


[20/JUL/2006]

A pergunta já seria difícil de responder se dissesse respeito, somente, à grave crise que vivemos, com a escalada terrorista do PCC, uma verdadeira guerra civil, de novo tipo, é verdade.

Alguns dirão: – Não há um conflito de classe, social, racial ou étnico, não há uma guerra? Será?

É evidente que a situação só não é mais grave porque vivemos um momento, apesar das desigualdades sociais, de aumento do emprego e da renda e de estabilidade política, apesar do esforço das oposições em desestabilizar o governo Lula.

É fácil imaginar qual seria o cenário, para além da barbárie do PCC e da incapacidade do Estado de dar resposta à altura da audácia e da violência do crime organizado, se estivéssemos vivendo uma grave crise econômica ou institucional. Teríamos saques e conflitos sociais e, aí sim, poderíamos evoluir para uma guerra civil.

Ouvindo a oposição sobre a responsabilidade dos ataques do PCC e lendo o que a imprensa reproduz, ficamos sabendo que, segundo os principais líderes da oposição, o PT, o Partido dos Trabalhadores, tem ligações com o crime organizado, com o PCC e sua recente campanha de ataques em São Paulo.

Alguém diria: – Simples apelação eleitoral, oportunismo sem limites, que já aconteceu no passado, no seqüestro do empresário Abílio Diniz. É mais do que tudo isso: é uma tentativa de desestabilizar o processo eleitoral e dá a medida da total falta de responsabilidade da oposição com a governabilidade do país e com o funcionamento das instituições republicanas.

Não é a primeira vez que Jorge Bornhausen, Geraldo Alckmin e José Serra, em nome da oposição, passam dos limites de uma regra fundamental da democracia que é não transformar a luta política em guerra, porque todos sabemos como começa, mas ninguém pode prever como e quando acabará.

Há um ano, temos assistido a uma campanha sórdida e violenta da oposição, com o objetivo explícito de desestabilizar e inviabilizar o governo Lula. Tudo a pretexto de combater o caixa dois nas eleições, a eventual corrupção no governo federal, desde que as investigações passem ao largo da oposição e das administrações de São Paulo, Pará, Ceará, Bahia, Minas Gerais, estados, entre outros, governados pela oposição.

Hoje falam, para quem quiser ouvir, que vencerão as eleições, mesmo que seja na marra, no tapetão. Falam e agem, como se vê no caso do PCC. É desespero, pela fragilidade da candidatura e do discurso da oposição frente à força popular e eleitoral do presidente Lula e de seu partido, ainda o preferido do eleitorado, ou é uma tática desesperada, diante da incapacidade de darem respostas ou de assumirem suas responsabilidades perante as sociedades paulista e brasileira.

A acusação, além de absurda, carente de provas e evidências, é ridícula, porque um Estado governado pelo PT, o Mato Grosso do Sul, foi e é vitima dos ataques do PCC. Lá, a Força Nacional, inclusive, foi solicitada e está presente. Esse fato torna mais grave a acusação, pois evidencia o verdadeiro objetivo das oposições: vencer a qualquer custo e radicalizar o processo eleitoral até transformá-lo em crise política e, não, em disputa democrática.

O PSDB e o PFL esperavam que tanto Lula como o PT estivessem liquidados no final do ano passado ou, no mais tardar, em abril/maio deste ano. Como isso não aconteceu e o tempo se esgota, o que não significa que a eleição esteja ganha para Lula e sua coalizão, apelam para a ignorância e a violência política.

Como as noticias do front econômico e social são cada vez melhores e Lula continua bem posicionado, resolveram radicalizar. E que se dane a credibilidade e a responsabilidade que devem presidir o debate político, numa questão que envolve a vida de centenas e a segurança de milhões de cidadãos.

Infelizmente, tudo indica que a oposição atravessou o Rubicão e caminha para o golpismo , hoje verbal, que, amanhã poderá ser real, indo das palavras à ação, tão a gosto de certos saudosistas das intervenções militares na nossa vida política.

Nós não podemos nos render a essa visão maniqueísta. É hora de dar um basta a esse teatro de fantoches, em defesa da democracia e de um projeto de desenvolvimento para o país, que nos conduza a uma sociedade mais justa e mais libertária.

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