Bolívia: Briga ou Negociação (diálogo)?
Jasson de Oliveira Andrade
Quando o presidente Lula anunciou que a Petrobrás se tornou auto-suficiente em petróleo, afirmei que isso só foi possível porque o Brasil adotou a política do “petróleo é nosso”. Agora está havendo uma tremenda polêmica motivada pela atitude da Bolívia, através de seu presidente Ivo Morales, em adotar a política do “gás é nosso”. O presidente daquele país nacionalizou o gás, ocupando propriedades da Petrobrás. Foi um Deus nos acuda!
A TV Globo, ao anunciar a medida de Morales, alarmou o Brasil. Iria faltar gás e passaríamos por um APAGÃO, como aconteceu no governo Fernando Henrique, de triste memória. As indústrias seriam afetadas. Algumas poderiam fechar, causando desemprego. Enfim, seria o Apocalipse brasileiro! Miriam Leitão, com aquele jeito professoral, deitou falação, acusando o governo Lula de agir com “despreparo e improvisação”. Queria briga com a Bolívia. Como isso não aconteceu e houve negociação, a belecista global não se conformou. Afirmou que Lula foi “derrotado” e “submisso”. Até um jornal de Mogi Guaçu quer o enfrentamento com a Bolívia. No entanto, caso acontecesse a briga, o enfrentamento, como ela, a oposição e outros desejavam, aí sim, haveria o corte do gás, com as conseqüências apontadas por ela e a Globo. A oposição ficou também decepcionada. Se houvesse o rompimento das relações com a Bolívia, haveria o caos e assim teriam uma arma poderosa contra Lula nas eleições de outubro. Com o diálogo, a Bolívia, ao invés de cortar, garantiu o fornecimento de gás, mas com o aumento no preço. Normal. Isso acontece com o preço do barril de petróleo. Os árabes aumentam constantemente os preços. E Bush e outros governantes não rompem com esses países produtores de petróleo. É lógico que o Brasil deve negociar o preço, evitando um grande aumento que poderia afetar as donas de casa, com o aumento do botijão de gás, e também as indústrias. Se o aumento for razoável, a Petrobras, como disse Lula
Alguns jornalistas, mesmo sendo críticos do governo Lula, ironizaram essa posição alarmante e mentirosa. Janio de Freitas, no artigo “O gás da reação”, disse: “O espírito [bélico] de Tio Sam baixou já para os primeiros comentários pós-nacionalização. Morales “simplesmente abriu guerra”, tem “sua força interna para bombardear os aliados potenciais externos”, “Morales expropriou a Petrobras”, “é hora de o presidente Lula e o Itamaraty serem firmes e duros”, “não dá para não reagir”. Estilo Bush nos seus melhores dias. (...) Ainda bem que os “marines” estão com a audição prejudicada pelas explosões no Iraque”. Conclui ele: “Evo Morales e Hugo Chávez poderão mostrar-se esquerdistas [ou neocomunistas com diz jornal guaçuano] por outros motivos, nunca pelo nacionalismo que exaspera os nossos discípulos de Tio Sam subitamente preocupados com o “ataque aos interesses brasileiros” (Folha, 4/5). No mesmo sentido, comenta o jornalista Sebastião Nery: “Na TV, o beligerante William Waak, sempre doidão por uma guerra, falava em “confisco”, “expropriação”, e parecia querer que o Brasil invadisse a Bolívia naquela noite. No jornal, a causídica de negócios Miriam Leitão dizia que a Bolívia, “sem mais, nem menos”, “rasgou contratos”, “expropriou”. (...) Nem rasgou nem expropriou. E que contratos? Não é só a Petrobras que está lá. Há mais de 20 empresas estrangeiras, de numerosos países, explorando petróleo, gás, transporte: a Bristisch Petroleum e a Britich Gás da Inglaterra, a Total da França, a Repsol da Espanha, a YPF da Argentina, dezenas. (...) Presidentes da Bolívia, que saíram de lá fugidos, venderam concessões e facilidades, doaram as riquezas do país em troca de polpudas contas em dólares no exterior. Isso era contrato? Isso era roubo”. Aliás, sobre outros países, Luís Nassif revelou: “A França já se dispôs a negociar com Morales [como fez Lula]. Por isso mesmo, seria bom esperar os próximos lances do jogo, antes de se propor a analisar o resultado de uma partida que mal começou”. Já Hélio Fernandes, na Tribuna da Imprensa (Rio), comenta: “O presidente da Fiesp, Paulo Skaff, fez discurso violento contra Morales. Quase pediu a invasão da Bolívia. Empresário insensível e irracional é assim”. Quanto a expropriação, como afirmam os críticos do governo, ela não aconteceu. Na reportagem “Petrobrás paga preço miserável”, Paulo Moreira Leite esclarece: “O decreto presidencial estabelece um prazo de seis meses de negociação. O ministro [Andrés Soliz Rada] declarou que, caso não se chegue a um acordo, seu governo poderá avançar até a “última etapa, de expropriação” (Estado, 4/5). Portanto, aqueles que falaram em “expropriação” não disseram a verdade. Ela poderá ocorrer após seis meses de negociação, caso não se chegue a um acordo. Afirmaram isso apenas para confundir os leitores e os telespectadores!
No encontro realizado
JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista
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