Monday, May 01, 2006

Garotinho, o "diabo"?


Jasson de Oliveira Andrade

Antes de entrar no assunto deste artigo, vamos recordar. Nas eleições de 2002, quando o candidato tucano (Serra) via-se ameaçado, os seus perseguidores eram vítimas de denúncias. Isso aconteceu com a filha de José Sarney, que estava à sua frente. Eliminada, o candidato Ciro Gomes também lhe passou. As denúncias agora viraram para este candidato. Só assim Serra chegou ao segundo turno, mas foi derrotado pelo Lula. Essa é a historia, que se repete neste ano.

Em 2006, as graves denúncias são contra o governo Lula. A grande mídia, maioria tucana, o ataca constantemente. Todos percebem essa situação. Parreira, treinador da Seleção Brasileira, percebeu em declaração à IstoÉ: “O presidente [Lula] é cobrado diariamente. Não dão colher de chá. É critica aqui, é charge ali, é CPI”, acrescentando: “O Lula é um fenômeno. Nesta crise toda pela qual o PT passou, manteve intocados os índices de popularidade. É um homem de valor e carisma impressionantes. O Lula ganhou e o Brasil não afundou, ao contrário. A economia melhorou, a inflação não aumentou. O governo dele tem sido bom”.

A mídia procura melhorar a posição de Alckmin, seu candidato preferido. Os outros concorrentes eram desprezados. Eles não mereciam críticas. Agora que Garotinho ameaça o tucano, como se fez em 2002, ele é denunciado como corrupto. Reagindo a essas acusações, o candidato do PMDB declarou: “Não há irregularidades. O que há é a tentativa de me desmoralizar, pois sabem que nas pesquisas de bastidores já ultrapassei Geraldo Alckmin (pré-candidato do PSDB)”. As críticas culminaram com as denúncias da VEJA, que publicou a fotografia de Garotinho na capa, com os chifres e o rabo do diabo, com os dizeres “Os 7 pecados capitais da política (populismo, corrupção, gastança, irresponsabilidade, fraude e intervencionismo). A foto é desrespeitosa. Abaixo dela, essa legenda: “O pré-candidato a presidente Anthony Garotinho encarna mazelas novas e velhas da vida pública brasileira”.

A resposta de Garotinho a essas denúncias foi surpreendente. Ele anunciou que fará greve de fome. O Estadão assim noticiou o fato: “Na entrevista que convocou, ele [Garotinho] disse, em discurso dramático, que o “sacrifício” só vai terminar quando for “instituída supervisão internacional no processo eleitoral, assegurando a igualdade de tratamento a todos os candidatos, com acompanhamento de instituições nacionais que tradicionalmente defendem a democracia”. Ele citou como caluniadores a “grande mídia, liderada pelas Organizações Globo e pela revista Veja – com INDISFARÇÁVEL PATROCÍNIO DO GOVERNO LULA (destaque meu)”. Antes, em declaração publicada pelo Estadão, ele dizia que o motivo era porque poderia ultrapassar Alckmin. O jornalista Carlos Chagas também chega a essa conclusão: “Se
mantiver sua candidatura [cogita-se que o PMDB não tenha candidato], Garotinho poderá muito bem chegar ao segundo turno, batendo a candidatura Alckmin”. Agora acusa o governo Lula. Por que essa mudança? Como patrocínio do governo Lula, se a Veja, que é tucana como se comprovou na Justiça Eleitoral (ela doou dinheiro a candidatos do PSDB), publicou dezenas de capas, são tantas que não sei o número certo, contra o governo? Existem explicações, que veremos a seguir. Se estão certas ou não fica a critério dos leitores.

Eduardo Guimarães, no artigo “A estratégia de Garotinho”, analisa: “Garotinho fez o ataque enquanto se defendia das acusações que surgiram contra ele na mídia depois que despontou ameaçando de tomar o lugar de Geraldo Alckmin num eventual segundo turno. (...) Você haverá de se perguntar: mas se as denúncias contra Garotinho surgiram na mídia tucana, por que ele não ataca o candidato tucano à Presidência? Por que o ex-governador do Rio elege Lula como seu alvo? (...) Garotinho não assumirá o segundo lugar nas pesquisas roubando votos de Alckmin. O eleitorado do peemedebista, em boa parte, é também o eleitorado de Lula. Assim, para ultrapassar o tucano precisa apenas tomar alguns votos do petista e arrebanhar os de alguns indecisos. Por isso ataca o presidente, para quem ceder uns pontinhos para ele e disputar com ele um eventual segundo turno, certamente seria muito melhor do que disputar com Alckmin. (...) Lula preferiria mil vezes disputar uma eleição em segundo turno contra mil Garotinhos do que contra meio Alckmin. Apesar da debilidade eleitoral do tucano, ele conta com apoio da mídia, do empresariado e dos mercados em peso. Garotinho não”. Adauto Melo estranha o ataque da revista: “Se a Veja tucana ataca o Garotinho desta maneira, do mesmo jeito que ataca o PT, aí tem coisa. Estão tentando salvar a candidatura Alckmin, que segundo dizem está atrás do Garotinho”.

Em minha opinião, a capa da Veja quis atingir o religioso Garotinho. Se era apenas o político e o governante bastaria a fotografia dele. Os chifres e o rabo do diabo são, sem dúvida, uma ofensa à sua crença, como a dizer que ele não é “santo”. Portanto, o “diabo” do título não é de minha autoria e sim da VEJA. O desrespeito não é meu! Além do mais, a referência aos 7 pecados capitais tem, acredito, conotação religiosa.
A estratégia de Garotinho, greve de fome, vai dar certo? A conferir.

JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista em Mogi Guaçu

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