Sunday, April 09, 2006

ENTREVISTA DE DIRCEU AO JORNAL PÁGINA 12 DA ARGENTINA


Dirceu:

“VOU AJUDAR MUITO NA REELEIÇÃO”

José Dirceu teve que renunciar no ano passado a chefia da Casa Civil do governo Lula, após denúncias de corrupção. Em entrevista exclusiva ao Página 12, explica porque acredita que Lula sobreviverá à crise.


“Não há provas nem contra mim, nem contra o PT”.

“O governo de Lula tem razões suficientes para pedir ao povo que o reeleja”, afirmou à Página/12 José Dirceu, ex- Ministro chefe da Casa Civil da Presidência da República do Brasil, no governo de Luís Inácio Lula da Silva e também a primeira vítima das denúncias de corrupção.

Dirceu teve que renunciar ao seu cargo no ano passado e teve seu mandato de deputado federal cassado, pela Câmara – atualmente luta no STF contra essa cassação – Advogado e consultor, foi presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) durante muitos anos e repete que é inocente das acusações que lhe fizeram. “Não existem provas contra mim, nem contra o PT”, repete.

- Quais foram às ações positivas do governo de Lula enquanto esteve a frente da Casa Civil?

- Em primeiro lugar, o governo tirou o Brasil de uma crise grave de governabilidade, de risco de hiperinflação, de descontrole do dólar e de crise energética. Não foi pouco o que fizemos. O país pagou grande parte de sua dívida externa, tivemos superávit comercial e de contas correntes, além de credibilidade no exterior. Também temos administrado a dívida interna, que é um grave problema no Brasil; criamos emprego – Lula vai terminar o governo criando cinco milhões de emprego em quatro anos – e reduzimos o valor da cesta básica. Lula também apoiou fortemente a agricultura familiar. Buscamos um intercâmbio importante na área social, na saúde e na educação, unindo um trabalho de integração do Brasil com a América do Sul e com a presença do nosso país no mundo. O governo de Lula tem razões suficientes para pedir ao povo que o reeleja.

- Quais as áreas o Senhor considera que estão pendentes?

- Fizemos a reforma tributária, do Poder Judiciário e da Previdência Social, porém não fizemos a reforma política. Pagamos caro por isso. Outra questão pendente é a reforma administrativa da gestão pública. As intervenções em infraestrutura foram importantes, contudo precisamos fazer mais nas estradas e nos portos. Precisamos avançar na reforma tributária ainda temos impostos que não estão unificados nos estados. O país necessita de agilidade. Agora que temos estabilidade econômica está na hora de desenrolarmos a máquina estatal.

- Como o senhor vê o seu futuro político depois do escândalo da corrupção?

- Eu não trabalho em curto prazo. Agora estou lutando na Corte Suprema para anular minha cassação. Além disso, estou trabalhando como advogado e consultor, e fazendo política como sempre. A única diferença é que não tenho mandato: não sou ministro, nem deputado, nem dirigente do PT. Porém estou trabalhando na reeleição de Lula, colaborando no que posso. Creio que vou ajudar muito.

- Como o senhor vê a reeleição de Lula?

- Com muitas chances reais, porque tem mais de 40% de intenções de voto, tem apoio do PT e de partidos aliados como o PTB, entre outros. Lula tem bases fortes nos estados e um bom programa de continuidade par apresentar ao país. Sim, há problemas, enfrentamos uma crise de governo e uma ofensiva muito forte da oposição. Não se provou nada contra o presidente e ele tem apoio popular.

- Quando o senhor ainda estava no governo, no ano passado, Lula lhe falou na possibilidade de disputar uma possível reeleição?

-Não, Lula não é de tomar decisões antecipadas. Tampouco é um defensor da reeleição, sempre esteve contra ela. Porém, não tem alternativa. O Brasil precisa do seu governo, que foi bom e que pode avançar mais em um segundo mandato.

- O senhor considera que seria melhor para Lula enfrentar José Serra como adversário, ao invés de Alckmin?

- Esperamos derrotar os dois, uma vez que ambos são adversários. O problema é que não são iguais. Na disputa interna do PSDB venceu a direita de Alckmin, o setor mais neoliberal, que tem políticas muito diferentes das nossas. Ganhou a continuidade do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

- Acredita que a saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda vá afetar o governo?

- Não creio que tenha grandes conseqüências, porque Lula teve uma resposta rápida. Sem dúvida, a saída de Palocci é uma grande perda para o presidente, para o governo e para todos nós, porque é um dirigente muito importante. Mas existem diferenças a respeito de sua política econômica, haverá uma nova inflexão, porque Guido Mantega tem outra personalidade.

- Houve uma manobra da direita para tirar Palocci do governo?

- Sim, a direita ia se aproveitar disto para incriminar Lula e também disseram que iam incriminar o filho de Lula para chegar a ele. Todo o país sabe disso. Há um grupo político que busca impedir a reeleição do presidente, com o pretexto de combater a corrupção. A oposição diz que quer acabar com o caixa 2 de financiamento de campanha, porém não faz a reforma política, que poderia efetivamente acabar com essa prática.

- Essa tática não dá legitimidade a direita?

- A nação acabou por entender que o objetivo da direita não é a ética, mas sim tirar Lula do governo. Foram desmascarados. Quando chegou a hora de fazer justiça, de investigar esses partidos não nos permitiram. O eleitorado do PT está convencido disso. A hora é agora ou nunca.

Reportagem de Virgínia Scardamaglia.

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