Monday, April 03, 2006

De Palocci à renúncia de Serra

Jasson de Oliveira Andrade

A queda do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, repercute ainda hoje. O motivo da demissão foi uma trapalhada. Ela começou com a denúncia do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, de que viu o ministro na Casa onde, segundo se supõe, reunia o grupo de Ribeirão Preto. Como Palocci havia declarado à CPI dos Bingos que nunca estivera lá, a denúncia do caseiro o desmentia. Em declaração sobre a fala de Nildo, ele voltou a afirmar que nunca havia estado naquela casa e que NÃO dirigia em Brasília (o caseiro disse que o viu dirigindo o carro). Era a palavra do ministro contra a do caseiro. Aí veio a trapalhada. A CPI dos Bingos, dominada pela oposição, quis ouvir Francenildo. No entanto, a pedido de um senador do PT, a convocação dele foi anulada pelo Supremo Tribunal. Segundo essa decisão, o caso nada tinha a ver com bingos. Mesmo assim, Nildo já havia iniciado o seu depoimento, que foi suspenso. Antes, o caseiro, respondendo a uma pergunta da senadora Heloisa Helena, se “tem mais alguém que o senhor sabe que estava com ele na casa”, ele disse: “Era sempre a menina que ele [Palocci] sempre ficava lá com ela. Ela chegava na frente”. Realmente essa declaração, se verdadeira, era íntima e nada tinha com bingos. Aí, como veremos, houve novas trapalhadas, essas sim graves e que motivaram a queda do ministro.

Palocci ficou sabendo que Francenildo dos Santos Costa tinha dinheiro recente depositado em sua conta na Caixa Federal, em valor elevado pelo salário que percebia. Como se desconfiava que o caseiro tivesse recebido dinheiro de tucanos (ele foi apresentado por um senador do PSDB), o ministro ficou eufórico. Tentou desmoralizá-lo. A revista Época publicou a história do recebimento desse dinheiro. Estourou, então, o escândalo. É que houve a quebra ilegal do sigilo bancário na Caixa Econômica Federal, banco onde Nildo tem conta-poupança. Descobriu-se depois que o dinheiro, R$ 25 mil em três vezes, não foi depositado pelos tucanos, como pensava Palocci, mas pelo suposto pai do caseiro, empresário Eurípides Soares, para que ele desistisse de entrar na Justiça com um processo de reconhecimento de paternidade. Em entrevista ao Estado, o suposto pai declarou: “Para me amedrontar, ele [Nildo] disse que falaria para minha família. Aí me derrubou todinho. Mandei o dinheiro para evitar um escândalo para minha mulher e minha filha”. Não evitou o escândalo e ainda causou um bem maior: na sindicância interna da Caixa Econômica, chegou-se à conclusão que o extrato do caseiro foi entregue ao ministro. Antes de chegar a essa conclusão, segundo informou o Estado, “na quinta [23/3] e sexta [24/3], o presidente Lula distribuiu broncas. Foi duro nas cobranças. Disse que era preciso entregar logo a cabeça do culpado para dar uma resposta à sociedade. Está particularmente aborrecido com a imagem de que seu governo persegue um caseiro”. Palocci, então, pediu o AFASTAMENTO do cargo. Lula o demitiu! Agora o ex-ministro poderá ser indiciado pelo crime. Seria um tiro contra a oposição, mas o tiro saiu pela culatra. Um depoimento que não daria em nada (seria a palavra de um contra a do outro), terminou em crime. Uma operação desastrada. Pior. Foi uma BURRICE!

Outro assunto do dia: a renúncia de Serra à Prefeitura para ser candidato a governador. Carlos Marchi, do Estado, constatou: “José Serra nasceu predestinado a ser presidente do Brasil. E o primeiro a achar isso, antes de seus pais, foi ele mesmo. Por este sonho, queimou etapas: o mais paulista dos políticos brasileiros nunca pensou em ser governador de São Paulo, garantem seus amigos”. Como Alckmin foi escolhido para presidente, restou para ele o prêmio de consolação: sair candidato a governador, cargo que nunca havia pensado. O motivo que o levou a aceitar a candidatura: o Datafolha foi-lhe favorável e ele ganharia já no primeiro turno. Serra tem contra si o compromisso que assumiu de ficar quatro anos na Prefeitura. Deve-se lembrar que os alckmistas, quando disputavam com ele, diziam que Serra não deveria renunciar. Com faixas, afirmavam: FICA SERRA. Depois de escolhido, Alckmin “esqueceu” a campanha e lutou para que ele fosse candidato ao governo de São Paulo. Agora ele não seria um estorvo e sim um cabo-eleitoral. Política (ou politicalha?). Entretanto, a campanha dos alckmistas vai pesar nas eleições. Segundo o Estadão, “muitos paulistanos se lembram na promessa feita em 2004 pelo então candidato José Serra, garantindo que não deixaria a Prefeitura da cidade no meio do mandato, caso fosse eleito. Lembram e estão dispostos a cobrá-la. O Estado ouviu, na avenida Paulista, 100 eleitores e 75 deles disseram reprovar a decisão de Serra de disputar a eleição para governador. Outras 23 pessoas aprovam a decisão, e duas não souberam responder. (...) Essa enquete, sem método cientifico, indica os argumentos que deverão ser lembrados contra e a favor da saída de Serra durante a campanha eleitoral”. Fernando Rodrigues revela: “Os petistas estão eufóricos. Acham que essas cenas serão suficientes para equilibrar um pouco o jogo”. Será? A conferir.

José Simão não perdeu a oportunidade. Ele diz: “Ao contrário do Dia do Fico, o Serra inventou o Dia do Saio: “Se é para o bem dos tucanos e a felicidade geral do PFL, diga ao povo que EU SAIO”. Mas ele não assinou documento dizendo que ia ficar na prefeitura? Depois dessa, quem vai querer o Serra como avalista? Não serve nem pra avalista!” Realmente a renúncia foi a felicidade geral do PFL, que ganhou de mãos beijadas a Prefeitura de São Paulo. Antes, o partido já havia recebido o governo do Estado, com a renúncia de Alckmin. Se é para o bem dos tucanos, só o tempo dirá.

A trapalhada (ou burrice?) de Palocci e a renúncia de Serra vão influenciar as eleições de outubro. Vamos esperar.

JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista em Mogi Guaçu

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