Serra x Alckmin: Deu chuchu
Jasson de Oliveira Andrade
A briga tucana acabou: o escolhido foi Alckmin. O Chuchu (como Alckmin passou a se designar) atropelou o Serra. O motivo verdadeiro dessa escolha não foi analisado pelos comentaristas políticos. A desistência do prefeito de São Paulo se deu em Janeiro de 2006.
No dia 20 daquele mês, o Estadão publicou o resultado de uma sondagem feita pelo jornal junto aos deputados tucanos na Câmara Federal. O resultado: 27 votos (52% das preferências) para Alckmin e 15 votos (29% do total) para Serra. Por que esse resultado? O certo deveria ser o contrário, visto que o prefeito estava bem cotado nas pesquisas, praticamente empatado com Lula. Já o governador colocou-se bem abaixo, teoricamente um candidato fraco para enfrentar o presidente.
O mesmo acontecia com a maioria dos governadores tucanos, que eram alckmistas. A única explicação, para mim, é que Serra não é benquisto entre boa parte desses dirigentes tucanos. Ele é considerado egocêntrico, arrogante e obsessivo. Seus amigos dizem que não é bem assim. No entanto, o resultado da sondagem do Estadão confirma essa impressão.
Sabendo disso, Alckmin usou de um estratagema inteligente e que poderia, como realmente conseguiu, derrotar o adversário tucano. O governador queria a prévia. O prefeito declarava à mídia que aceitava a candidatura se fosse unanimidade no PSDB. A manchete da Folha (14/3) revelou o desejo do prefeito: “Serra quer candidatura, mas sem prévia”. Como prevaleceu a tese de Alckmin (consulta), Serra sabia que iria perder e, sabiamente, desistiu, dando a vitória ao governador!
Serra procurou dar outra explicação para a sua desistência, escondendo a verdadeira. Em nota à imprensa escrita e falada, ele justificou: “Coloquei-me a disposição do PSDB para assumir a candidatura se isso refletisse o desejo de todos os setores partidários. Surgiu, porém, a necessidade de uma disputa interna em razão da legítima postulação do governador Geraldo Alckmin e do seu desejo de que fosse realizado algum tipo de PRÉVIA (destaque meu) entre os militantes tucanos.
Isto, no entanto, traria sérios riscos de DIVISÃO DO PARTIDO (destaque meu), a começar por São Paulo, servindo aos propósitos de nossos adversários”. Essa a desculpa. Na realidade Serra sabia, como mostrei, que seria derrotado na prévia. A divisão, com a escolha de Alckmin, já existe, embora desmentida. Primeiro, porque o prefeito não fez um pronunciamento pessoal em apoio ao governador e se contentou com uma simples nota. Depois, essa manchete do Estadão diz tudo: “Sem a presença de Serra, PSDB lança Alckmin à Presidência”.
A ausência dele demonstra que a divisão realmente existe (ele poderá até dar um apoio verbal, mas sem entusiasmo). Agora querem que Serra seja candidato a governador. É o desejo de um setor do tucanato e também do Estadão. Mais uma manchete que explica os fatos: “Tasso quer Serra na disputa por SP; alckmistas resistem” (Folha, 15/3). Ao que parece o governador, que é apresentado como bom moço, é também arrogante e acha que é dono do nosso Estado!
No mesmo dia em que Alckmin era escolhido, a pesquisa do Ibope não lhe foi favorável. Nela, Serra está bem, mas, com o governador, Lula pode vencer já no primeiro turno: a diferença é massacrante: Lula, 43% e Alckmin, 19 (24 pontos!). Eliane Cantanhêde analisou a situação: “Alckmin é vendido como o “novo”, que tem tudo para crescer e derrotar Lula com o seu jeito certinho, eficiente, professoral. Mas, na prática, nua e crua, Serra tinha mais votos e empatava com Lula. Alckmin vai ter de suar muito para queimar 24 pontos atrás e chegar ao início do horário de TV em pé de igualdade com Lula”.
A grande esperança dos alckmistas é que os votos previstos a Serra nas pesquisas se revertam, migrem, para o governador. Não será fácil. Alckmin é conservador e, segundo a revista Época, ele pertence a Opus Dei, uma seita católica ultra-conservadora e fechada, bem como contrária ao ecumenismo, ou seja, ao diálogo com outras igrejas. Alckmin desmente a revista (diz que apenas parente é da Opus Dei).
No entanto, poderá perder votos de evangélicos, um eleitorado que pode decidir a eleição. O conservadorismo dele tem o apoio do Estadão, que, em Editorial, diz “O PSDB fez a coisa certa”, referindo-se à escolha do governador. Mas perderá votos de setores progressistas que apoiavam Serra. Tem outro motivo: ligado a Fernando Henrique Cardoso. Entre outras pessoas nomeadas pelo governador e a ele ligadas, o chefe da Casa Civil de Alckmin, cargo mais importante do governo, deputado Arnaldo Madeira, foi líder do governo FHC. Não pode, portanto, fugir das comparações do governo atual (Lula) com o anterior (Fernando Henrique). Temos ainda outros motivos que poderão tirar votos dele, mas fica para outro artigo.
Para terminar, José Simão: “Efeito Alckmin! O dólar cai e o chuchu sobe!”
JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista em Mogi Guaçu
A briga tucana acabou: o escolhido foi Alckmin. O Chuchu (como Alckmin passou a se designar) atropelou o Serra. O motivo verdadeiro dessa escolha não foi analisado pelos comentaristas políticos. A desistência do prefeito de São Paulo se deu em Janeiro de 2006.
No dia 20 daquele mês, o Estadão publicou o resultado de uma sondagem feita pelo jornal junto aos deputados tucanos na Câmara Federal. O resultado: 27 votos (52% das preferências) para Alckmin e 15 votos (29% do total) para Serra. Por que esse resultado? O certo deveria ser o contrário, visto que o prefeito estava bem cotado nas pesquisas, praticamente empatado com Lula. Já o governador colocou-se bem abaixo, teoricamente um candidato fraco para enfrentar o presidente.
O mesmo acontecia com a maioria dos governadores tucanos, que eram alckmistas. A única explicação, para mim, é que Serra não é benquisto entre boa parte desses dirigentes tucanos. Ele é considerado egocêntrico, arrogante e obsessivo. Seus amigos dizem que não é bem assim. No entanto, o resultado da sondagem do Estadão confirma essa impressão.
Sabendo disso, Alckmin usou de um estratagema inteligente e que poderia, como realmente conseguiu, derrotar o adversário tucano. O governador queria a prévia. O prefeito declarava à mídia que aceitava a candidatura se fosse unanimidade no PSDB. A manchete da Folha (14/3) revelou o desejo do prefeito: “Serra quer candidatura, mas sem prévia”. Como prevaleceu a tese de Alckmin (consulta), Serra sabia que iria perder e, sabiamente, desistiu, dando a vitória ao governador!
Serra procurou dar outra explicação para a sua desistência, escondendo a verdadeira. Em nota à imprensa escrita e falada, ele justificou: “Coloquei-me a disposição do PSDB para assumir a candidatura se isso refletisse o desejo de todos os setores partidários. Surgiu, porém, a necessidade de uma disputa interna em razão da legítima postulação do governador Geraldo Alckmin e do seu desejo de que fosse realizado algum tipo de PRÉVIA (destaque meu) entre os militantes tucanos.
Isto, no entanto, traria sérios riscos de DIVISÃO DO PARTIDO (destaque meu), a começar por São Paulo, servindo aos propósitos de nossos adversários”. Essa a desculpa. Na realidade Serra sabia, como mostrei, que seria derrotado na prévia. A divisão, com a escolha de Alckmin, já existe, embora desmentida. Primeiro, porque o prefeito não fez um pronunciamento pessoal em apoio ao governador e se contentou com uma simples nota. Depois, essa manchete do Estadão diz tudo: “Sem a presença de Serra, PSDB lança Alckmin à Presidência”.
A ausência dele demonstra que a divisão realmente existe (ele poderá até dar um apoio verbal, mas sem entusiasmo). Agora querem que Serra seja candidato a governador. É o desejo de um setor do tucanato e também do Estadão. Mais uma manchete que explica os fatos: “Tasso quer Serra na disputa por SP; alckmistas resistem” (Folha, 15/3). Ao que parece o governador, que é apresentado como bom moço, é também arrogante e acha que é dono do nosso Estado!
No mesmo dia em que Alckmin era escolhido, a pesquisa do Ibope não lhe foi favorável. Nela, Serra está bem, mas, com o governador, Lula pode vencer já no primeiro turno: a diferença é massacrante: Lula, 43% e Alckmin, 19 (24 pontos!). Eliane Cantanhêde analisou a situação: “Alckmin é vendido como o “novo”, que tem tudo para crescer e derrotar Lula com o seu jeito certinho, eficiente, professoral. Mas, na prática, nua e crua, Serra tinha mais votos e empatava com Lula. Alckmin vai ter de suar muito para queimar 24 pontos atrás e chegar ao início do horário de TV em pé de igualdade com Lula”.
A grande esperança dos alckmistas é que os votos previstos a Serra nas pesquisas se revertam, migrem, para o governador. Não será fácil. Alckmin é conservador e, segundo a revista Época, ele pertence a Opus Dei, uma seita católica ultra-conservadora e fechada, bem como contrária ao ecumenismo, ou seja, ao diálogo com outras igrejas. Alckmin desmente a revista (diz que apenas parente é da Opus Dei).
No entanto, poderá perder votos de evangélicos, um eleitorado que pode decidir a eleição. O conservadorismo dele tem o apoio do Estadão, que, em Editorial, diz “O PSDB fez a coisa certa”, referindo-se à escolha do governador. Mas perderá votos de setores progressistas que apoiavam Serra. Tem outro motivo: ligado a Fernando Henrique Cardoso. Entre outras pessoas nomeadas pelo governador e a ele ligadas, o chefe da Casa Civil de Alckmin, cargo mais importante do governo, deputado Arnaldo Madeira, foi líder do governo FHC. Não pode, portanto, fugir das comparações do governo atual (Lula) com o anterior (Fernando Henrique). Temos ainda outros motivos que poderão tirar votos dele, mas fica para outro artigo.
Para terminar, José Simão: “Efeito Alckmin! O dólar cai e o chuchu sobe!”
JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista em Mogi Guaçu
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