Sunday, February 05, 2006


Carceroni: documento explosivo


Exclusivo: os bastidores da divulgação do suposto caixa dois em Furnas
Por Marcos Palhares [2/2/2006] * Revista forum


Desde o início do ano repercute na mídia, ainda que de forma tímida, a suspeita de arrecadação ilegal de recursos para campanhas eleitorais por meio da estatal de energia Furnas Centrais Elétricas, em 2002. Ao todo, R$ 39,9 milhões teriam financiado 156 campanhas políticas em vários estados. Tudo está detalhado em um documento assinado em 30 de novembro daquele ano pelo ex-diretor de Furnas, Dimas Toledo.

O relatório traz, em cinco páginas, os nomes das principais empresas e instituições doadoras e de todos os beneficiados, bem como os valores que teriam sido pagos a cada um nos dois turnos das eleições. Em anexo, Fórum recebeu também um laudo de duas páginas feito em outubro do ano passado pelo perito Ricardo Molina, de Campinas, atestando que “o documento não apresenta indícios de manipulação fraudulenta”.

Porém, mesmo considerando que a veracidade do documento ainda não foi confirmada, a timidez na cobertura jornalística pode ser explicada, em grande parte, pelos nomes ilustres que constam na lista de possíveis beneficiados. Constam na lista tucanos de alta plumagem como José Serra (R$ 7 milhões), Geraldo Alckmin (R$ 9,3 milhões) e Aécio Neves (R$ 5,5 milhões).

Assim como no caso do Valerioduto, a denúncia teve origem em Belo Horizonte. Durante uma visita à Assembléia Legislativa de Minas Gerais, em dezembro, o ex-procurador do Procon e atual assessor da Administração Regional Oeste da Prefeitura de Belo Horizonte, Luiz Fernando Carceroni, reencontrou Rogério Correia, deputado estadual pelo PT e antigo companheiro seu no Sindicato Único dos Trabalhadores em Ensino de Minas (SindiUTE-MG).

“Perguntei ao deputado se as denúncias contra o senador Eduardo Azeredo eram verdadeiras e ele disse que ainda não tinha visto nada. Foi então que ele me mostrou uma cópia desse documento de Furnas”, revela Carceroni. “O Correia me permitiu copiá-lo e disse que teve acesso aos papéis por meio de Nilton Monteiro”, acrescenta. Monteiro é o lobista que recentemente revelou documentos sobre a existência de caixa dois na campanha de Eduardo Azeredo à reeleição do governo de Minas Gerais, em 1998, reconhecidos posteriormente pela Polícia Federal como autênticos.

“Por duas vezes Monteiro mostrou que os documentos que consegue são sólidos. Ele foi o autor, em 2001, de acusações comprovadas de irregularidades no governo do Espírito Santo, gestão PSDB”, lembra Carceroni. “Pelo que soube, neste caso sobre Furnas, Monteiro obteve o documento original com o ex-advogado de Dimas Toledo, fez uma cópia com firma reconhecida e devolveu”, afirma o assessor.

Papel timbrado

O ponto mais intrigante é o fato de o explosivo relatório de caixa dois estar em papel timbrado de Furnas e assinado pelo ex-diretor. “Acredito que Toledo tinha um relatório e recentemente imprimiu em timbrado e assinou a pedido de seu advogado. Devem ter dito a ele que seria apanhado pelas acusações de Roberto Jefferson, que provocaram sua demissão de Furnas, e que ele precisava se proteger”, sustenta.

Assim, convencido da veracidade do documento, Carceroni resolveu divulgar a cópia que obteve do deputado Rogério Correia via internet. “Mandei para grande parte dos maiores veículos de comunicação e encaminhei também ao Ministério Público e à Controladoria Geral da União, pois a denúncia envolve dinheiro público. Não sei se fiz uma ‘doideira’, mas achei que era meu dever”, diz o assessor.

A Polícia Federal está investigando o caso. A assessoria de imprensa da PF em Brasília informou à Fórum, porém, que as investigações em Furnas correm em segredo de Justiça. “O Nilton Monteiro entregou esse relatório à Polícia Federal em Brasília e chegou inclusive a ser interrogado. Eu creio que o caso pode ser comprovado mesmo a partir da cópia do documento”, completa Carceroni. O perito Ricardo Molina, da Unicamp, confirmou que periciou o documento em outubro do ano passado. Pra ele, embora as cópias reprográficas tenham limitações nautrais, "é possível, dentro das ressalvas apontadas, afirmar que o documento questionado não apresenta indícios de manipulação fraudulenta". No entanto, uma verificação definitiva da autenticidade dependeria da análise do documento original.

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