“Caixa dois de Furnas tem recibos”, garante deputado mineiro
Por Marcos Palhares [3/2/2006] *Revista Forum
O deputado mineiro Rogério Correia (PT-MG) garantiu, com exclusividade para a Fórum, que existem recibos de políticos beneficiados com dinheiro desviado da estatal elétrica Furnas, em 1998, para financiamento de campanhas. “Uma fonte que não posso revelar aqui – mas contei seu nome à Polícia Federal - chegou a ver meia-dúzia de recibos originais. Informei à PF sobre a existência desses recibos assinados”, dispara o parlamentar.
A denúncia foi feita em dezembro do ano passado, quando Correia entregou à PF, em Brasília, a cópia de uma lista supostamente assinada pelo ex-diretor de Furnas, Dimas Toledo, em papel timbrado, com os nomes de todos os doadores e beneficiados dos R$ 39,9 milhões destinados a 156 campanhas políticas, em vários estados.
O deputado mineiro disse à PF que chegou a ter o original desse documento em mãos. Desde dezembro, cópias da lista vazaram na internet e o assunto chegou timidamente à mídia. Na última quarta-feira, porém, o ex-deputado federal Roberto Jefferson confirmou em depoimento na sede da PF que recebeu R$ 75 mil de Furnas na campanha de 1998, exatamente como relatado no documento.
Na entrevista a seguir, o deputado Correia conta como teve acesso ao documento e detalha todo o processo que culminou em sua denúncia à Polícia.
Fórum – Como o senhor teve acesso ao documento que supostamente comprova o caixa dois em Furnas?
Rogério Correia – Tive acesso por meio do Nilton (Monteiro, lobista), que me trouxe duas denúncias. Isso aconteceu mais ou menos em agosto do ano passado. Ele me procurou depois que o escândalo das denúncias contra o Marcos Valério estourou. Aqui em Minas Gerais nós sempre soubemos da arrecadação ilícita de dinheiro para as campanhas do PSDB via DNA e SMBP, as empresas do Valério. A gente sabia da relação entre eles, mas faltavam provas. Na época em que o escândalo estourou, mais ou menos em junho de 2005, cheguei a propor uma CPI aqui na Assembléia para averiguar a influência dessas empresas do Valério nos órgãos públicos municipais, estaduais e federais. Era de nosso interesse e competência, pois o Marcos Valério e suas empresas são daqui de Minas e a própria Assembléia tinha contrato com elas (que já foi cancelado). Porém, não conseguimos as 26 assinaturas necessárias para instalar a CPI. Dos 77 deputados, 52 são ligados ao governador Aécio Neves.
Fórum – Foi então que o Nilton Monteiro se aproximou?
Correia – Sim. A mídia noticiou a derrota da CPI e o Nilton me procurou dizendo que tinha denúncias graves sobre o assunto. Ele não me disse tudo de uma vez, foi revelando aos poucos. Na época, fez uma primeira denúncia ao jornal O Globo, mostrando DOCs da SMBP para políticos em 1998, o que comprometeu o senador Eduardo Azeredo e todo o PSDB mineiro. Por isso resolvi dar atenção ao que o Nilton dizia e, ao mesmo tempo, aprofundar as investigações por conta própria. O Nilton levou um documento à Polícia Federal mostrando o esquema do Azeredo em 1998, assinado pelo Cláudio Mourão, tesoureiro de campanha. Eles declararam R$ 8 milhões como custo oficial da campanha do Azeredo, mas na realidade foram R$ 100 milhões. Ou seja: foram R$ 92 milhões de caixa dois. O Mourão disse que o Nilton tinha falsificado a assinatura dele, mas a PF confirmou a autenticidade da assinatura e continua investigando o caso.
Fórum – Foi comprovado o envolvimento das empresas do publicitário Marcos Valério nesse esquema?
Correia – Dos R$ 92 milhões não declarados, R$ 53 milhões teriam vindo das empresas do Marcos Valério. Desses R$ 53 milhões, a SMBP teria captado R$ 10 milhões dos cofres públicos, de empresas como a Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), a Comig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais) e a Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais). Fiz um ofício para saber da Cemig se havia algum repasse para a SMBP e a resposta confirmou um repasse, a título de propaganda, exatamente na data e no valor, R$ 2 milhões, que estão descritos no documento apresentado pelo Nilton à Polícia. Quando fomos ver as notas, eram frias. A gráfica que as imprimiu era de um amigo do Cláudio Mourão, mas registrada em nome de um laranja. Os outros R$ 8 milhões foram captados via Copasa e Comig, destinados ao “Enduro da Independência”, um evento de motocross promovido pelo Governo do Estado. O superfaturamento desse evento, inclusive, é motivo hoje de uma ação do Ministério Público que já está no Supremo Tribunal Federal. Então, essas coisas foram batendo, a partir dos primeiros documentos apresentados pelo Nilton Monteiro.
Fórum – Foi então que o senhor teve acesso ao documento que detalha o desvio de verba de Furnas?
Correia – A partir de setembro do ano passado, acumulei muitos documentos e fui entregando ao Ministério Público, pedindo investigação. Não estou autorizado a revelar quem me mostrou, mas, nesse período, vi o original da lista de Furnas, assinada em papel timbrado pelo ex-diretor da estatal, Dimas Toledo, detalhando valores e nomes de todos os doadores e beneficiados pelo desvio de verba para financiamento de campanhas, em 1998. Porém, não pude fazer cópia. Uma outra fonte que também não posso revelar aqui - mas contei seu nome à PF - chegou a ver meia-dúzia de recibos originais de políticos beneficiados por esse caixa dois. Informei a Polícia Federal sobre a existência desses recibos assinados.
Fórum – Foi então que o senhor levou essa denúncia à Polícia Federal?
Correia – Sim. Em dezembro, começaram a circular na internet cópias daquele documento de Furnas. Tirei uma cópia e levei até a PF, em Brasília. Disse que era um xerox, mas que eu tinha visto o original, e comentei sobre os recibos. Disse que merecia averiguação, por causa da perícia que confimou como verdadeira a assinatura do Cláudio Mourão no documento sobre o caixa dois de Azeredo. E agora vem o Roberto Jefferson e diz que recebeu R$ 75 mil de Furnas, exatamente como relata a lista assinada por Dimas Toledo.
Fórum – Por que Dimas Toledo registraria e assinaria, em papel timbrado de Furnas, todos os detalhes do desvio de verba em 1998?
Correia – O Dimas sempre foi, no governo FHC, um dos principais inimigos do PT e do Lula em Minas Gerais. Quando o Lula ganhou, em 2002, houve uma campanha muito forte da base do PT mineiro para que ele saísse da direção de Furnas. Naquela eleição, ele tinha eleito seu filho deputado estadual, Dimas Fabiano, com uma campanha riquíssima. Sem nenhuma base popular, o filho dele foi o segundo deputado mais votado. Então, já havia indícios de que Furnas estava servindo para financiar campanhas. Mas aí o Lula assumiu e o Itamar Franco demonstrou interesse na estatal. O governador Aécio Neves fez enorme pressão e conseguiu que Dimas ficasse em Furnas. As perguntas que ficaram foram as seguintes: por que Itamar queria tanto controlar a estatal e por que o governo Lula permitiu que o Dimas ficasse no cargo? Mas, voltando à sua pergunta, eu penso que o Dimas fez esse documento e guardou para se proteger. O Roberto Jefferson disse essa semana que metade dos nomes que aparecem na lista do caixa dois pediram para o Dimas não sair de Furnas quando o Lula assumiu. Isso significa que já havia muita gente amedrontada. Na análise que faço, o Dimas fez esse documento para se proteger. Afinal, por que a CPI nunca o chama para depor? Porque os tucanos não têm interesse nenhum.
Fórum – E onde está esse documento original da lista de caixa dois de Furnas?
Correia – Não sei. O Nilton me disse que conseguiu com um ex-advogado do Dimas e que devolveu o documento. E ele disse que esse advogado já morreu. Não tenho mais contato com ele, mas creio que a Polícia Federal já deve ter outras confirmações, pois perguntou sobre o assunto para o Roberto Jefferson. Vamos esperar, agora, que a PF e o Ministério Público investiguem até o fim. Porque não acredito que o Congresso Nacional vá fazer isso.
Por Marcos Palhares [3/2/2006] *Revista Forum
O deputado mineiro Rogério Correia (PT-MG) garantiu, com exclusividade para a Fórum, que existem recibos de políticos beneficiados com dinheiro desviado da estatal elétrica Furnas, em 1998, para financiamento de campanhas. “Uma fonte que não posso revelar aqui – mas contei seu nome à Polícia Federal - chegou a ver meia-dúzia de recibos originais. Informei à PF sobre a existência desses recibos assinados”, dispara o parlamentar.
A denúncia foi feita em dezembro do ano passado, quando Correia entregou à PF, em Brasília, a cópia de uma lista supostamente assinada pelo ex-diretor de Furnas, Dimas Toledo, em papel timbrado, com os nomes de todos os doadores e beneficiados dos R$ 39,9 milhões destinados a 156 campanhas políticas, em vários estados.
O deputado mineiro disse à PF que chegou a ter o original desse documento em mãos. Desde dezembro, cópias da lista vazaram na internet e o assunto chegou timidamente à mídia. Na última quarta-feira, porém, o ex-deputado federal Roberto Jefferson confirmou em depoimento na sede da PF que recebeu R$ 75 mil de Furnas na campanha de 1998, exatamente como relatado no documento.
Na entrevista a seguir, o deputado Correia conta como teve acesso ao documento e detalha todo o processo que culminou em sua denúncia à Polícia.
Fórum – Como o senhor teve acesso ao documento que supostamente comprova o caixa dois em Furnas?
Rogério Correia – Tive acesso por meio do Nilton (Monteiro, lobista), que me trouxe duas denúncias. Isso aconteceu mais ou menos em agosto do ano passado. Ele me procurou depois que o escândalo das denúncias contra o Marcos Valério estourou. Aqui em Minas Gerais nós sempre soubemos da arrecadação ilícita de dinheiro para as campanhas do PSDB via DNA e SMBP, as empresas do Valério. A gente sabia da relação entre eles, mas faltavam provas. Na época em que o escândalo estourou, mais ou menos em junho de 2005, cheguei a propor uma CPI aqui na Assembléia para averiguar a influência dessas empresas do Valério nos órgãos públicos municipais, estaduais e federais. Era de nosso interesse e competência, pois o Marcos Valério e suas empresas são daqui de Minas e a própria Assembléia tinha contrato com elas (que já foi cancelado). Porém, não conseguimos as 26 assinaturas necessárias para instalar a CPI. Dos 77 deputados, 52 são ligados ao governador Aécio Neves.
Fórum – Foi então que o Nilton Monteiro se aproximou?
Correia – Sim. A mídia noticiou a derrota da CPI e o Nilton me procurou dizendo que tinha denúncias graves sobre o assunto. Ele não me disse tudo de uma vez, foi revelando aos poucos. Na época, fez uma primeira denúncia ao jornal O Globo, mostrando DOCs da SMBP para políticos em 1998, o que comprometeu o senador Eduardo Azeredo e todo o PSDB mineiro. Por isso resolvi dar atenção ao que o Nilton dizia e, ao mesmo tempo, aprofundar as investigações por conta própria. O Nilton levou um documento à Polícia Federal mostrando o esquema do Azeredo em 1998, assinado pelo Cláudio Mourão, tesoureiro de campanha. Eles declararam R$ 8 milhões como custo oficial da campanha do Azeredo, mas na realidade foram R$ 100 milhões. Ou seja: foram R$ 92 milhões de caixa dois. O Mourão disse que o Nilton tinha falsificado a assinatura dele, mas a PF confirmou a autenticidade da assinatura e continua investigando o caso.
Fórum – Foi comprovado o envolvimento das empresas do publicitário Marcos Valério nesse esquema?
Correia – Dos R$ 92 milhões não declarados, R$ 53 milhões teriam vindo das empresas do Marcos Valério. Desses R$ 53 milhões, a SMBP teria captado R$ 10 milhões dos cofres públicos, de empresas como a Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), a Comig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais) e a Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais). Fiz um ofício para saber da Cemig se havia algum repasse para a SMBP e a resposta confirmou um repasse, a título de propaganda, exatamente na data e no valor, R$ 2 milhões, que estão descritos no documento apresentado pelo Nilton à Polícia. Quando fomos ver as notas, eram frias. A gráfica que as imprimiu era de um amigo do Cláudio Mourão, mas registrada em nome de um laranja. Os outros R$ 8 milhões foram captados via Copasa e Comig, destinados ao “Enduro da Independência”, um evento de motocross promovido pelo Governo do Estado. O superfaturamento desse evento, inclusive, é motivo hoje de uma ação do Ministério Público que já está no Supremo Tribunal Federal. Então, essas coisas foram batendo, a partir dos primeiros documentos apresentados pelo Nilton Monteiro.
Fórum – Foi então que o senhor teve acesso ao documento que detalha o desvio de verba de Furnas?
Correia – A partir de setembro do ano passado, acumulei muitos documentos e fui entregando ao Ministério Público, pedindo investigação. Não estou autorizado a revelar quem me mostrou, mas, nesse período, vi o original da lista de Furnas, assinada em papel timbrado pelo ex-diretor da estatal, Dimas Toledo, detalhando valores e nomes de todos os doadores e beneficiados pelo desvio de verba para financiamento de campanhas, em 1998. Porém, não pude fazer cópia. Uma outra fonte que também não posso revelar aqui - mas contei seu nome à PF - chegou a ver meia-dúzia de recibos originais de políticos beneficiados por esse caixa dois. Informei a Polícia Federal sobre a existência desses recibos assinados.
Fórum – Foi então que o senhor levou essa denúncia à Polícia Federal?
Correia – Sim. Em dezembro, começaram a circular na internet cópias daquele documento de Furnas. Tirei uma cópia e levei até a PF, em Brasília. Disse que era um xerox, mas que eu tinha visto o original, e comentei sobre os recibos. Disse que merecia averiguação, por causa da perícia que confimou como verdadeira a assinatura do Cláudio Mourão no documento sobre o caixa dois de Azeredo. E agora vem o Roberto Jefferson e diz que recebeu R$ 75 mil de Furnas, exatamente como relata a lista assinada por Dimas Toledo.
Fórum – Por que Dimas Toledo registraria e assinaria, em papel timbrado de Furnas, todos os detalhes do desvio de verba em 1998?
Correia – O Dimas sempre foi, no governo FHC, um dos principais inimigos do PT e do Lula em Minas Gerais. Quando o Lula ganhou, em 2002, houve uma campanha muito forte da base do PT mineiro para que ele saísse da direção de Furnas. Naquela eleição, ele tinha eleito seu filho deputado estadual, Dimas Fabiano, com uma campanha riquíssima. Sem nenhuma base popular, o filho dele foi o segundo deputado mais votado. Então, já havia indícios de que Furnas estava servindo para financiar campanhas. Mas aí o Lula assumiu e o Itamar Franco demonstrou interesse na estatal. O governador Aécio Neves fez enorme pressão e conseguiu que Dimas ficasse em Furnas. As perguntas que ficaram foram as seguintes: por que Itamar queria tanto controlar a estatal e por que o governo Lula permitiu que o Dimas ficasse no cargo? Mas, voltando à sua pergunta, eu penso que o Dimas fez esse documento e guardou para se proteger. O Roberto Jefferson disse essa semana que metade dos nomes que aparecem na lista do caixa dois pediram para o Dimas não sair de Furnas quando o Lula assumiu. Isso significa que já havia muita gente amedrontada. Na análise que faço, o Dimas fez esse documento para se proteger. Afinal, por que a CPI nunca o chama para depor? Porque os tucanos não têm interesse nenhum.
Fórum – E onde está esse documento original da lista de caixa dois de Furnas?
Correia – Não sei. O Nilton me disse que conseguiu com um ex-advogado do Dimas e que devolveu o documento. E ele disse que esse advogado já morreu. Não tenho mais contato com ele, mas creio que a Polícia Federal já deve ter outras confirmações, pois perguntou sobre o assunto para o Roberto Jefferson. Vamos esperar, agora, que a PF e o Ministério Público investiguem até o fim. Porque não acredito que o Congresso Nacional vá fazer isso.
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