A pátria de Geraldo
MAURO SANTAYANA A pátria de Geraldo Artigo originalmente publicado em Agência Carta Maior
Não é de todo mau, para a democracia, que o Sr. Geraldo Alckmin assuma, claramente, a sua postura liberal-conservadora. Se assim se fizer, cumpre-se o projeto de Sérgio Motta e teremos um fernandismo com Geraldo, o que não haveria com José Serra.
O governo de Vichy resumia o seu projeto, como servidor dos alemães, em “Deus, Pátria e Trabalho”. Antes deles, os integralistas brasileiros mantinham dois dos termos do trinômio e trocavam o terceiro: “Deus, Pátria e Família”. Mais práticos, provavelmente pensando no financiamento de suas atividades, os fundadores da TFP, com o Sr. Plínio Correa de Oliveira à frente, optaram por “Tradição, Família e Propriedade”. Deus e a Pátria foram, convenientemente, deixados de lado.
O Sr. Geraldo Alckmin não tem o perfil dos seguidores de Maurras e de Pètain, nem de Plínio Salgado ou Correa de Oliveira. Era de esperar-se que tivesse um pouco do perfil do Sr. Mário Covas, o bravo combatente que enfermidade cruel impediu de continuar servindo ao Brasil com seu rigoroso apego aos valores republicanos. O atual governador de São Paulo parece ter a visão do mundo ofuscada pelos refletores da ribalta política. Quando ele diz que “as pátrias (ao pluralizar a expressão, banaliza-a) são as famílias, a religião, os costumes, a tradição” sua excelência usa a linguagem da extrema direita. Ao usá-la, com ela se identifica.
É provável que o governador de São Paulo tenha optado por assumir posição anti-Lula, ou seja, significar a opção maniqueísta, supondo que os eleitores são chamados a uma escolha de clube aristocrático, em que há bolas brancas e bolas negras. Se o bem educado governador de São Paulo conhecesse um pouco mais de História Política, talvez entendesse que os eleitores, normalmente, não raciocinam nesses termos absolutos. Eles fazem a escolha movidos por informações e sentimentos variados. Quando o governador usa o plural para famílias e costumes, e o singular para religião e tradição, confessa admitir uma só religião, que não explicitou, mas pode ser entendida como a católica de Pio IX e Pio XII, e uma só tradição, a conservadora.
A Pátria republicana, e é a que escolhemos e temos, pode ser entendida como a soma dialética da liberdade com a solidariedade. Ela admite todas as crenças e todas as idéias – incluídas as dos dois Plínios (o Salgado e o Correa de Oliveira) e as do governador Alckmin, sem esquecer Charles Maurras, paladino da monarquia absoluta e do anti-semitismo, e autor do citado slogan Dieu, Patrie et Travail. Mas ao admitir que elas sejam expostas, em nome da liberdade, não significa que vá a elas curvar-se e submeter-se: seu compromisso maior é com a preservação da nacionalidade, com a solidariedade. Exatamente para ser solidária com todos os seus nacionais, a República é, e deve ser, absolutamente pluralista e laica.
O governador Alckmin expressou certa solidariedade, de forma veemente, quando o grande centro comercial Daslu foi surpreendido por uma operação conjunta da Polícia Federal com a Secretaria da Receita. Expressou-a com os proprietários do negócio e com os seus bem situados clientes. Naquela solidariedade com a Daslu, o social democrata Alckmin contou com o apoio do liberal Antonio Carlos Magalhães e outras personalidades elevadas do cenário político e social do Brasil, ou seja, dos freqüentadores habituais das colunas políticas e das revistas semanais que tratam da vida sans souci das pessoas ricas e geralmente ociosas.
Não é de todo mal, para a democracia, que o Sr. Geraldo Alckmin assuma, claramente, a sua postura liberal-conservadora. É bom, da mesma forma, que anuncie – o que se espera quando apresentar o seu programa de governo – a retomada da venda das empresas nacionais aos investidores privados. E para que haja a benfazeja transparência, convém logo anunciar a sua equipe de governo, com o Sr. Luis Carlos Mendonça de Barros como o grão vizir da economia. É importante que, nesta decisão de se apresentar como o anti-Lula, reafirme os laços de entranhada solidariedade que Fernando Henrique estabeleceu com os Estados Unidos. E se quiser ousar ainda mais, o governador Geraldo Alckmin pode aceitar compartilhar com George Bush a soberania sobre os nosso território e seus recursos naturais.
Se assim se fizer – e ressalvando que ele fala em religião, enquanto seu chefe, Fernando Henrique, sempre se confessou ateu – cumpre-se o projeto de Sérgio Motta, e teremos um fernandismo sem Fernando, um fernandismo com Geraldo, o que não haveria com José Serra. E há outro efeito benéfico de tudo isso. Se, como dizem os franceses, a quelque chose malheur est bon, o reacionarismo de Alckmin poderá despertar os brios do PT, a fim de que o partido – para se contrapor ao governador de São Paulo – retome as bandeiras solidárias da esquerda republicana e se livre, de uma vez por todas, desses agregados de Harvard e arredores, que recebeu com os móveis do Banco Central e os computadores do Ministério da Fazenda.
Não é de todo mau, para a democracia, que o Sr. Geraldo Alckmin assuma, claramente, a sua postura liberal-conservadora. Se assim se fizer, cumpre-se o projeto de Sérgio Motta e teremos um fernandismo com Geraldo, o que não haveria com José Serra.
O governo de Vichy resumia o seu projeto, como servidor dos alemães, em “Deus, Pátria e Trabalho”. Antes deles, os integralistas brasileiros mantinham dois dos termos do trinômio e trocavam o terceiro: “Deus, Pátria e Família”. Mais práticos, provavelmente pensando no financiamento de suas atividades, os fundadores da TFP, com o Sr. Plínio Correa de Oliveira à frente, optaram por “Tradição, Família e Propriedade”. Deus e a Pátria foram, convenientemente, deixados de lado.
O Sr. Geraldo Alckmin não tem o perfil dos seguidores de Maurras e de Pètain, nem de Plínio Salgado ou Correa de Oliveira. Era de esperar-se que tivesse um pouco do perfil do Sr. Mário Covas, o bravo combatente que enfermidade cruel impediu de continuar servindo ao Brasil com seu rigoroso apego aos valores republicanos. O atual governador de São Paulo parece ter a visão do mundo ofuscada pelos refletores da ribalta política. Quando ele diz que “as pátrias (ao pluralizar a expressão, banaliza-a) são as famílias, a religião, os costumes, a tradição” sua excelência usa a linguagem da extrema direita. Ao usá-la, com ela se identifica.
É provável que o governador de São Paulo tenha optado por assumir posição anti-Lula, ou seja, significar a opção maniqueísta, supondo que os eleitores são chamados a uma escolha de clube aristocrático, em que há bolas brancas e bolas negras. Se o bem educado governador de São Paulo conhecesse um pouco mais de História Política, talvez entendesse que os eleitores, normalmente, não raciocinam nesses termos absolutos. Eles fazem a escolha movidos por informações e sentimentos variados. Quando o governador usa o plural para famílias e costumes, e o singular para religião e tradição, confessa admitir uma só religião, que não explicitou, mas pode ser entendida como a católica de Pio IX e Pio XII, e uma só tradição, a conservadora.
A Pátria republicana, e é a que escolhemos e temos, pode ser entendida como a soma dialética da liberdade com a solidariedade. Ela admite todas as crenças e todas as idéias – incluídas as dos dois Plínios (o Salgado e o Correa de Oliveira) e as do governador Alckmin, sem esquecer Charles Maurras, paladino da monarquia absoluta e do anti-semitismo, e autor do citado slogan Dieu, Patrie et Travail. Mas ao admitir que elas sejam expostas, em nome da liberdade, não significa que vá a elas curvar-se e submeter-se: seu compromisso maior é com a preservação da nacionalidade, com a solidariedade. Exatamente para ser solidária com todos os seus nacionais, a República é, e deve ser, absolutamente pluralista e laica.
O governador Alckmin expressou certa solidariedade, de forma veemente, quando o grande centro comercial Daslu foi surpreendido por uma operação conjunta da Polícia Federal com a Secretaria da Receita. Expressou-a com os proprietários do negócio e com os seus bem situados clientes. Naquela solidariedade com a Daslu, o social democrata Alckmin contou com o apoio do liberal Antonio Carlos Magalhães e outras personalidades elevadas do cenário político e social do Brasil, ou seja, dos freqüentadores habituais das colunas políticas e das revistas semanais que tratam da vida sans souci das pessoas ricas e geralmente ociosas.
Não é de todo mal, para a democracia, que o Sr. Geraldo Alckmin assuma, claramente, a sua postura liberal-conservadora. É bom, da mesma forma, que anuncie – o que se espera quando apresentar o seu programa de governo – a retomada da venda das empresas nacionais aos investidores privados. E para que haja a benfazeja transparência, convém logo anunciar a sua equipe de governo, com o Sr. Luis Carlos Mendonça de Barros como o grão vizir da economia. É importante que, nesta decisão de se apresentar como o anti-Lula, reafirme os laços de entranhada solidariedade que Fernando Henrique estabeleceu com os Estados Unidos. E se quiser ousar ainda mais, o governador Geraldo Alckmin pode aceitar compartilhar com George Bush a soberania sobre os nosso território e seus recursos naturais.
Se assim se fizer – e ressalvando que ele fala em religião, enquanto seu chefe, Fernando Henrique, sempre se confessou ateu – cumpre-se o projeto de Sérgio Motta, e teremos um fernandismo sem Fernando, um fernandismo com Geraldo, o que não haveria com José Serra. E há outro efeito benéfico de tudo isso. Se, como dizem os franceses, a quelque chose malheur est bon, o reacionarismo de Alckmin poderá despertar os brios do PT, a fim de que o partido – para se contrapor ao governador de São Paulo – retome as bandeiras solidárias da esquerda republicana e se livre, de uma vez por todas, desses agregados de Harvard e arredores, que recebeu com os móveis do Banco Central e os computadores do Ministério da Fazenda.
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